A economia brasileira demonstrou resiliência no segundo trimestre de 2024, superando as expectativas do mercado e reforçando um cenário de cautela para o Banco Central (BC) em relação aos rumos da taxa Selic. Dados divulgados hoje pelo BC e pela Fundação Getulio Vargas (FGV) apontam um crescimento significativo da atividade econômica, apesar dos desafios enfrentados, como as enchentes no Rio Grande do Sul em maio.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou um aumento de 1,40% em junho e de 1,1% no segundo trimestre, superando as previsões dos analistas. Paralelamente, o Monitor do PIB da FGV confirmou essa tendência, mostrando que a economia brasileira avançou 1,4% na leitura mensal e 1,1% na trimestral em junho.
Mirella Hirakawa, economista e coordenadora de pesquisa da Buysidebrazil, destacou que o impacto do desastre climático no Rio Grande do Sul foi menos severo do que inicialmente estimado, com uma recuperação notável em setores como derivados de petróleo, fumo e produtos químicos. Essa robustez econômica tem impulsionado as projeções de crescimento do PIB, que, segundo o presidente do BC, Roberto Campos Neto, podem ser revisadas para 2,5%, acima dos 2,3% anteriormente previstos.
Apesar do cenário positivo, os economistas mantêm a expectativa de cautela por parte do BC. “Olhando para a inflação, ainda não há grandes impactos da transmissão do mercado de trabalho aquecido para os serviços”, observou Hirakawa. Ela prevê que a taxa Selic se mantenha em 10,50% até o final de 2025.
Rodolfo Margato, economista da XP, reforçou a visão de uma atividade econômica resiliente, impulsionada pelo mercado de trabalho aquecido. Ele indicou que o Tracker do PIB da XP, atualmente em 2,2%, pode ser revisado para 2,5% ou mais, tornando a tarefa do BC de controlar a inflação mais desafiadora.
André Valério, economista sênior do Inter, também antecipa um BC cauteloso, sem mudanças na política monetária no curto prazo. Ele sugere que a robustez da atividade econômica pode ser uma oportunidade para o governo reduzir o impulso fiscal, contribuindo para a redução dos juros sem comprometer o crescimento.
Por sua vez, Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, vê os dados recentes como uma confirmação da necessidade de uma política monetária vigilante por parte do BC. Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, acrescentou que, apesar do cenário aquecido, a iminência de um afrouxamento monetário nos EUA pode alterar o balanço de riscos para a economia brasileira.
Finalmente, Alexandre Dellamura, head de conteúdo da Melver, afirmou que o forte desempenho do IBC-Br em junho reflete os estímulos fiscais do primeiro semestre e explica a resistência do BC em cortar a Selic, dado o maior consumo e a possível pressão inflacionária. Ele também lembrou que o relatório Focus do BC prevê um crescimento de 2,20% para 2024, embora o governo esteja mais otimista, projetando um PIB de até 2,8%.
Com a economia demonstrando dinamismo acima do esperado, a decisão do BC sobre a Selic na próxima reunião do Copom em setembro será acompanhada de perto, com o mercado atento aos sinais de como a autoridade monetária lidará com o equilíbrio entre crescimento e controle da inflação.