
Há dados que merecem ser reconhecidos com honestidade. O Ceará reduziu a extrema pobreza ao menor nível de sua série histórica. Isso não é retórica nem construção narrativa. É número, é estatística oficial, é gente que passou a comer melhor e a dormir com menos angústia. Desmerecer esse feito seria intelectualmente desonesto e moralmente insensível.
Programas de transferência de renda e de segurança alimentar cumpriram um papel essencial. Foram resposta rápida diante da miséria agravada pela pandemia e pelo colapso silencioso das economias familiares. Quando a fome bate à porta, não se discute teoria econômica. Abre-se a porta. Nesse ponto, o Estado acertou.
Mas é justamente aí que começa a parte menos confortável da conversa. A redução da extrema pobreza não decorreu, em sua maior parte, da geração consistente de trabalho, renda produtiva ou autonomia econômica. Ela se apoiou, majoritariamente, na redistribuição. Isso salva. Mas não emancipa.
Há um risco quando o alívio se confunde com travessia concluída. A política pública que não evolui para inclusão produtiva transforma o necessário amparo em dependência crônica. O benefício que sustenta também pode imobilizar, se não vier acompanhado de caminhos reais para o trabalho, a qualificação e a dignidade construída pelo próprio esforço.
O dado positivo precisa ser celebrado sem euforia e analisado sem cinismo. O Ceará avançou, sim. Mas avançou sobre uma ponte provisória. A pobreza extrema diminuiu, enquanto a fragilidade estrutural permanece. O desafio agora não é manter pessoas assistidas, é torná-las desnecessárias ao assistencialismo.
Reconhecer conquistas não exige silêncio crítico. Pelo contrário. Só a crítica responsável impede que bons números virem álibi para más acomodações. A fome diminuiu. O futuro, ainda não chegou.
Gera Teixeira é empresário ítalo-brasileiro com atuação nos setores de construção civil e engenharia de telecomunicações. Graduado em Marketing, com formação executiva pela Fundação Dom Cabral e curso em Inovação pela Wharton School (EUA). Atualmente cursa Pós-graduação em Psicanálise e Contemporaneidade pela PUC. Atuou como jornalista colaborador em veículos de grande circulação no Ceará. Integrou o Comites Italiano Nordeste, órgão representativo vinculado ao Ministério das Relações Exteriores da Itália. Tem participação ativa no associativismo empresarial e sindical.







