
O Ministério da Fazenda acredita que a esperada redução nas taxas de juros dos Estados Unidos até o final do ano poderá aliviar as pressões sobre o real, contribuindo para reverter, ao menos parcialmente, a alta recente do dólar no Brasil, que chegou a flutuar perto dos R$ 5,80. A expectativa é que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, inicie o ciclo de cortes em setembro, conforme sinalizado pelo presidente da instituição, Jerome Powell.
Entre os fatores domésticos que contribuíram para a desvalorização do real, a equipe econômica liderada pelo ministro Fernando Haddad destaca a divisão no Banco Central (BC), com um placar dividido na reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom), aumentando a percepção de um possível racha entre diretores indicados pelo governo Bolsonaro e aqueles indicados pelo governo Lula. Além disso, críticas públicas do presidente Lula ao chefe do BC, Roberto Campos Neto, e a crise política envolvendo a Medida Provisória do PIS-Cofins, que enfrentou resistência no Congresso, também pesaram no cenário econômico.
Outro ponto de pressão foi o adiamento dos cortes de juros nos EUA, inicialmente previstos para 2023. A economia americana mostrou sinais de aquecimento, o que levou o Fed a manter as taxas mais elevadas por mais tempo, afetando moedas de países emergentes como o Brasil.
No entanto, a Fazenda observa que o cenário começou a melhorar, com a unificação das votações no Copom e a interrupção das críticas de Lula ao Banco Central. A antecipação da indicação do substituto de Campos Neto para o comando do BC, já em articulação com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, também contribuiu para reduzir a incerteza.
Além disso, medidas de contingenciamento e bloqueio de R$ 15 bilhões no orçamento demonstraram o compromisso do governo com a meta fiscal de 2024, um déficit zero com tolerância de até 0,25% do PIB. A compensação para a desoneração de setores da economia, como estabelecido no pacote econômico, também reforça essa meta.
A expectativa da Fazenda é que, com o início dos cortes nos juros americanos, aliado a uma Selic ainda em dois dígitos no Brasil, o diferencial de juros entre os dois países atraia mais capital financeiro, promovendo uma valorização do real. A equipe econômica projeta que a taxa de câmbio pode se estabilizar em torno de R$ 5.
Com o afastamento dos riscos de uma recessão nos EUA e a melhora do ambiente externo, o Brasil pode se beneficiar, diminuindo as pressões inflacionárias e criando um cenário favorável para a continuidade da queda da Selic a partir de 2025. A estimativa atual, ainda informal, é que o crescimento do PIB do Brasil em 2024 se aproxime de 3%, acima dos 2,5% previstos anteriormente.