
Há quem olhe para a espiritualidade franciscana e veja apenas a moldura da pobreza. Engano comum de quem enxerga pela superfície. Francisco não se vestiu de miséria; vestiu-se de liberdade. Libertou-se dos grilhões que não se veem, aqueles forjados no apego e na vaidade, e que apertam mais que correntes de ferro.
A verdadeira essência dessa vivência não está no nada ter, mas no nada ser possuído. É compreender que a vida só encontra equilíbrio quando o corpo e o espírito caminham lado a lado, sem que um devore o outro. Ostentação e privação extrema são abismos diferentes que levam ao mesmo vazio. Um cega pela vaidade; o outro, pelo desalento.
Francisco escolheu o caminho do meio, a vereda estreita onde a singeleza se faz força. É um caminho iluminado não pelo brilho de joias, mas pela luz serena de quem caminha leve. Nesse solo, cada passo é consciente, cada gesto é despojado do peso do supérfluo, e o coração pulsa sem dívida com a vaidade ou com o medo.
A espiritualidade franciscana é como um campo aberto onde o vento não encontra muros. Não é renúncia amarga, mas escolha lúcida. É beber da fonte limpa do que é essencial e recusar o veneno doce da ostentação. É saber que tudo passa, e que apenas a forma como vivemos e amamos se inscreve no eterno.
No fim, essa espiritualidade não nos pede pobreza, mas nos convida à leveza. Ensina que a maior posse que alguém pode ter é a de si mesmo, inteiro, livre, e em paz com o que é.








