GLP-1 no Brasil: promessa de milagre, preço de privilégio

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O que está acontecendo
Medicamentos como Ozempic e Wegovy, da classe dos GLP-1, ganharam fama global pela eficácia no controle do diabetes e na perda de peso. Agora, estudos indicam efeitos positivos também sobre Alzheimer, vício em drogas, apneia, inflamações e até distúrbios psiquiátricos. Mas no Brasil, o acesso permanece restrito — e altamente desigual.

Por que importa
Enquanto a elite médica discute o “remédio para tudo”, o sistema público assiste de fora. A Anvisa só aprovou o uso para diabetes tipo 2. Tudo o mais — controle de peso, Alzheimer, dependência química — é prescrito “off-label” e pago do próprio bolso. O SUS está fora do jogo.
Já os planos privados resistem à cobertura, e as farmácias vendem a mais de R$ 1.200 por mês.

O paradoxo brasileiro
O Brasil é um dos países com maiores índices de obesidade e diabetes tipo 2, justamente os alvos centrais dos GLP-1. Mas a combinação de regulação lenta, preços altos e distribuição desigual torna o acesso um luxo.
Favelas, periferias e populações indígenas, que enfrentam índices crescentes dessas doenças, não têm sequer consulta especializada — quanto mais um injetável de alto custo, de uso contínuo e sem previsão de fornecimento estatal.

No subterrâneo da saúde
Avançam também por aqui os golpes: remédios falsificados vendidos online, clínicas de estética que aplicam sem prescrição formal, e empresas de telemedicina que terceirizam a decisão clínica. O risco é dobrado: efeitos adversos sérios e um mercado paralelo que cresce sem regulação.

Vá mais fundo
A questão central segue sem resposta: os GLP-1 curam doenças complexas ou apenas atenuam sintomas derivados da obesidade? No Brasil, essa dúvida vira um impasse moral: pode o SUS financiar uma medicação cara e de uso prolongado enquanto falta o básico em unidades de saúde?
Ao mesmo tempo, a ausência de alternativas eficazes para doenças como demência e esquizofrenia pressiona famílias, médicos e gestores a buscarem soluções novas — e o GLP-1 vira símbolo de um país que sempre chega depois.

O risco sistêmico
Se o SUS incorporar os GLP-1, o impacto orçamentário pode ser explosivo. Se ignorar, o abismo social se alarga. O Brasil está diante de mais um dilema que mistura saúde, desigualdade e escolhas políticas.

A frase que resume
Na terra da desigualdade, até o milagre da medicina escolhe para quem aparecer.

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