
Durante discurso recente em evento da construção civil, o presidente Lula (PT) referiu-se à diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, como “uma mulherzinha” — termo que, em outros tempos (e de outras bocas), a esquerda não hesitaria em classificar como machista. A fala se soma a um repertório de declarações desastradas que Lula tem acumulado no terceiro mandato, especialmente quando se trata de figuras femininas no poder.
O que foi dito
“E lá eu encontro com uma mulherzinha, presidente do FMI, diretora-geral do FMI, nem me conhecia. […] Eu falei ‘você nem me conhece, eu não te conheço, como é que você fala isso?’” — Lula, ao relembrar encontro no G7 em 2023
Quem é a “mulherzinha”
Kristalina Georgieva tem um currículo robusto:
• Dirige o FMI desde 2019;
• Foi CEO do Banco Mundial e comissária da União Europeia, onde coordenou a resposta humanitária à crise dos refugiados de 2015;
• É Ph.D. em Economia, autora de mais de 100 publicações;
• Já foi premiada como “Europeia do Ano”, está entre as 100 pessoas mais influentes da TIME (2020) e recebeu, em 2024, o Prêmio Ugo La Malfa por sua contribuição à cooperação internacional.
Entre as linhas
• A fala de Lula revela mais que impulsividade: escancara um machismo estrutural que a esquerda costuma condenar… nos outros.
• Em tempos de vigilância sobre a linguagem e representatividade feminina, a declaração passa quase impune no campo progressista — algo improvável se tivesse vindo de Jair Bolsonaro.
• Imagine o noticiário se o ex-presidente tivesse chamado Georgieva de “mulherzinha”. Seria manchete, editorial, protesto.
Por que importa
O caso mostra como certos discursos têm licença poética quando vêm de aliados ideológicos. O problema é que, ao relativizar o machismo dependendo do autor, a esquerda enfraquece a própria bandeira de defesa da altivez feminina — e, de quebra, desrespeita mulheres que construíram trajetórias sólidas no centro do poder global