As águas de março estão à porta. Ainda estaremos no sábado de carnaval quando março chegar. Como se costuma pensar, “o ano só começa depois do carnaval”. Na política também se pensa assim, especialmente em se tratando de Congresso Nacional.
Contudo, as “águas de março” e sua tormenta parecem já ter chegado para o governo de Lula. Duas semanas seguidas com duas pesquisas de institutos de pesquisa dizendo a mesma coisa: o governo Lula 3 é crescentemente desaprovado pela população e, o que é pior, começa a crescer como desaprovado nos seguimentos que garantiram sua apertada derrota em 2022.
Águas turvas e revoltas para o governo; águas promissoras para a oposição, que já convoca “brasileiros” a irem às ruas daqui a um mês, um dia depois da “comemoração” dos 10 anos daqueles primeiros protestos que pediram a queda de Dilma Rousseff, em 2015.
Os dados das duas pesquisas (Genial Quaest e DataFolha) deram à oposição a oportunidade de fugir da bandeira única da anistia (para Bolsonaro) e do famigerado impedimento de Alexandre de Moraes e se enunciar como canalizador natural para expressão dos interesses dos descontentes com o governo federal.
Naquele março de 2015 estavam na boca dos ainda pouco manifestantes atos do governo Dilma que apontavam para um “estelionato eleitoral”: alta do preço do gás de cozinha e da energia elétrica, medidas “impopulares” levadas a cabo por Joaquim Levy (aquelas mesmas que a campanha petista havia posto no colo de Marina Silva) e as denúncias de corrupção que se avolumavam por ocasião da Operação Lava Jato.
Dez anos depois, é a mesma economia que confere oportunidade à oposição para lembrar aos brasileiros que o governo de Lula vai mal exatamente onde prometeu vencer Bolsonaro em 22. Se perder a capacidade de entregar melhorias concretas aos brasileiros exatamente na área onde se mostrava distinto de Bolsonaro, o governo de Lula poderá ver em breve manifestações que relembrem-no que, há pouco mais de uma década, é a direita brasileira (grandemente antipetista por definição) quem protagoniza movimentos de rua no Brasil.
Março de 2015, março de 2025. Lá como aqui reformas ministeriais gestadas, dificuldades com a base aliada, problemas de comunicação, presidentes da Câmara fortalecidos. Naquele cenário, Lula emergiria, meses depois, como “salvador” do governo de Dilma; em caso semelhante agora, a quem caberia tal função?