Com a publicação da nota oficial do PL Mulher, na última segunda-feira (08/12), em que se informava o “afastamento médico” de Michelle Bolsonaro por “alterações em sua saúde” das atividades que estavam programadas para os próximos dias, muito especulou-se sobre um “cala-te” que teria sido orquestrado contra a ex-primeira dama após os atritos públicos com a linhagem masculina de seu marido, Jair Bolsonaro.
As especulações, alimentadas pela imprensa e por parte da classe política (sobretudo, a “progressista”), tomaram forma a partir do enquadramento dado à nota: Michelle teria sido “afastada” do comando do PL Mulher após, claramente, ter enfrentado seus enteados e os políticos com os quais se ligaram por puro pragmatismo – por ter incomodado, com seu protagonismo feminino, os homens teriam reagido e produzido um “cala-te”.
Uma outra nota seria publicada na noite desta terça-feira (09/12), legendada por um “cuidado com o sensacionalismo“. Nela se pode ler que Michelle “não se afastou da presidência do PL Mulher“, e que ele “retornará ao trabalho no dia 16“.
Pode ser. De fato, houve um exagero na cobertura acerca do conteúdo da primeira nota, o que se deve ao jornalismo político.
Prefiro, porém, ver no fato uma estratégia mais sutil: Michelle sairia de cena, deixaria com os “homens” as articulações em torno da candidatura de direita para 2026. Fracassando as tratativas, pondo a nu as incongruências e traindo-se os ideais do bolsonarismo, a mulher (aquela que, em nota após a briga pública com André e Cia, disse preferir ser “esposa e mãe” a fazer a “política suja” das “raposas“), a mulher seria convocada lá de onde estaria – o doce lar das mulheres virtuosas – para salvar o legado de patriotas, conservadores e “homens de bem”.
Michelle, penso seu, afastou-se para deixar a política sob a batuta dos “homens de sempre”; mas, intenta ela, ressurgir, ser convocada para salvar a pátria.
Uma mitologia vindo aí.








