Realizou-se na manhã deste sábado mais uma edição do PL Mulher, uma espécie de caravana nacional em que o fundo partidário é utilizado pelo PL para popularizar a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro e alavancar candidaturas locais para as eleições do ano que vem. Desta vez o evento foi em Marabá, no estado do Pará. Embora nomeado como evento para “mulheres de bem”, os discursos foram dominados por homens, bem ao gosto do bolsonarismo.
Talvez porque, como disse a “ex” num momento de seu discurso, “quem odeia a figura masculina são as feministas, nós fazemos política com feminilidade, é diferente“. Bom, as feministas estão em partidos de esquerda que, em sua maioria, têm homens como mandatários.
Gritos efusivos de “Michelle, Michelle” e “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão” foram repetidos ao longo da manha, que ainda contou com um ensaio de derramamento de lágrimas de Michelle ao falar em seu marido, no início do evento.
Repetiu-se o que se viu em outras edições: a entrada de Michelle, emulando uma apresentadora de TV, é precedida por um vídeo, com várias imagens suas, no qual se pode ver coisas assim:
“A mulher de direita, ela é diferenciada, sim.
Quanta coisa a gente fez, é um legado. Podem tirar do sistema, como estão fazendo […]
Nós somos mães, mulheres, preciosas. Deus nos deu o dom de gerar […]
Não vamos dar espaço para que o mal ocupe.
Vamos dar a resposta nas urnas.
Nós queremos isso: incentivar, influenciar mulheres de bem.
A cota é importante? É, mas nós queremos a mulher para que ela seja protagonista”.
Interpelação da direita, referência ao “sistema” (que atua para “tirar”) e à religião, crítica velada às cotas de gênero (que os partidos de direita teimam em burlar).
Mas, recado maior: encampa-se, ali, a agenda da vez – MULHERES NO PODER!
No discurso deste sábado penso que Michelle deu a tônica do que pode vir a ser o (seu) discurso oposicionista no enfrentamento a Lula no ano que vem:
1- as imbricações entre religião e política: “por muito tempo nós acreditamos que religião e política não se misturavam. Aí veio o mal, não existe espaço vazio. O terror da esquerda é que a direita se ergueu“;
2- centralidade de Bolsonaro como fiador e enunciador de plataformas de oposição: “Jair Messias diz hoje para você que só existem duas vias: a vida e a morte. Cabe a vocês escolherem”;
3- a lugar da mulher “de bem” na decisão do voto (um “ele não” ao contrário): “uma mulher, hoje, decide uma eleição […] povo acomodado é o povo dominado […] mulher não usa arma, usa o Brasil e vence qualquer guerra“;
4- ataque moralista ao presidente: “Lula não fica vermelho para mentir, fica bêbado“, sempre com “devaneios etílicos“.
Dizendo-se “defensora da família”, e fazendo referência aos males que “as drogas, incluindo o alcool” produz nas famílias, Michelle ataca Lula como “bêbado“. A estratégia não é nova: em 2006, o senador candidato a vice na chapa de Geraldo Alckmim disse, em um comício, que Lula não podia governar o Brasil porque “bebia demais“.
Assim, anticristão, bêbado, mentiroso, esbanjador parecem ser termos depreciativos que se ensaiam para corroer a imagem de Lula em 26.
Ah… a imagem que dá título a esse texto foi usada pela própria “ex”: segunda ela, as mulheres são “o pescoço da cabeça pensante”, que são os maridos.
Assim, Michelle, o pescoço de Jair, a gritar contra Lula, o bêbado.
Que o chat gpt nos ajude na visualização dessa hydra!