
Morreu nesta segunda-feira, 10 de novembro de 2025, em Fortaleza, aos 70 anos, Osvaldo Euclides de Araújo, economista, mestre em Administração e um dos nomes mais marcantes da história recente do O POVO. Ex-superintendente do jornal, Osvaldo dedicou mais de duas décadas de sua vida à casa fundada por Demócrito Rocha, ajudando a consolidar seu papel como espaço de debate público, cultura e pensamento crítico no Ceará.
Discreto e sereno, amigos de diversos intelectuais, Osvaldo foi um homem de ideias firmes e convicções profundas. Via o jornalismo como instrumento de transformação social e acreditava que o papel da imprensa era, antes de tudo, o de iluminar a consciência coletiva — com transparência, debate e liberdade. “Ele enxergava o jornal como um espaço onde se dava a possibilidade de estabelecer um debate democrático”, lembrou Sandra Machado, sua companheira por duas décadas, que o descreve como um homem generoso, amoroso e de uma delicadeza rara (O Povo).
Filho do jornalista Olavo Euclides de Araújo, que nos anos 1950 dirigiu o jornal Gazeta de Notícias, Osvaldo herdou do pai a paixão pelas letras e o compromisso com o ofício. Ingressou no O POVO nos anos 1980, onde exerceu cargos de direção financeira, comercial e superintendência até 1998. Participou da criação da Fundação Demócrito Rocha, da qual foi diretor executivo entre 1987 e 1989, e integrou o Conselho Editorial do jornal.
Com inteligência ampla e rigor analítico, Osvaldo era conhecido entre colegas por seu olhar econômico sobre o Ceará e o Brasil — uma visão sempre ponderada, mas crítica, sobre as forças que moldam o poder e a imprensa. Em uma de suas reflexões mais notáveis, escreveu:
“Numa economia pequena e pobre, numa sociedade ainda um pouco provinciana e atrasada, as empresas e as pessoas de destaque sempre têm algum tipo de relacionamento de submissão ou de interesse com a máquina pública do Estado. […] O Povo enfrentaria nos anos seguintes uma conjunção de adversidades contra as quais poucas instituições sobreviveriam.”
Em 2008, publicou o livro Uma breve e incompleta notícia sobre um jornal (Editora Omni), com prefácio de José Anderson Sandes, onde reuniu memórias, análises e uma leitura afetiva sobre o papel do O POVO na história do Ceará.
Mesmo após deixar o jornal, manteve viva sua vocação intelectual. Criou em 2012 o site Segunda Opinião, um espaço dedicado à análise política, econômica e cultural, coordenando uma equipe de colaboradores voluntários — professores, intelectuais e profissionais liberais — comprometidos com a reflexão crítica e a liberdade de pensamento.
Osvaldo era, segundo os que o conheceram, um homem de palavra calma e de raciocínio límpido, que preferia o diálogo à exaltação e o estudo à pressa. Amava sua família com a mesma intensidade com que amava o debate de ideias. O editor do Focus Poder, jornalista Fábio Campos, entrou e ascendeu posições no O Povo na fase em que Oswaldo era diretor: “Fui convidado à sua sala algumas vezes. Geralmente n presença de Demócrito Dummar. Geralmente, para ouvir minha opinião a respeito de alguma decisão que se relacionava com o setor público. Ele sempre muito cordato, ouvia atentamente e agradecia”, disse Fábio Campos.
Deixa quatro filhos, quatro netos e uma lembrança de afeto e integridade que ultrapassa o campo profissional.
O velório acontece na Funerária Ethernus, a partir das 19h desta segunda-feira. A missa será realizada na terça-feira, às 8h, no mesmo local, seguida do sepultamento no Cemitério Parque da Paz, às 10h.
Em tempos de ruído e vaidade, Osvaldo Araújo foi — e continuará sendo — lembrado como um homem que acreditava no poder silencioso da lucidez, e que fez da palavra um instrumento de serviço público.
A seu respeito, o ex-reitor da UFC, Paulo Elpídio de Menezes Neto, colaborador do Focus e do Segunda opinião. escreveu sobre o amigo que partiu:
OSVALDO EUCLIDES DE ARAUJO
Por Paulo Elpidio
Perdemos o grande jornalista e o amigo. Nestes últimos anos, falávamo-nos e nos comunicávamos com frequência.
SEGUNDA OPINIAO, o blog que conduziu com serenidade e isenção profissional transformou-se em um espaço inteligente de convergências e divergências intelectuais e politicas.
Conhecemo-nos no Conselho Editorial do jornal O POVO, sob a batuta de Democrito Dummar. A partir desse encontro cordial, guardamos mútua admiração e a amizade que relembro agora, sem conseguir conter a emoção e o sentimento de uma perda irreparável para o jornalismo do Ceará.
No outono das nossas vidas, compartilhei com Osvaldo as conjecturas da idade de dois homens postos diante de um mundo em descontrolada efervescência. Osvaldo, aquela criatura suave e doce, ofereceu aos amigos exemplos firmes de competência e honestidade. De uma familia de jornalistas, com raízes na Gazeta de Noticias, ainda aos tempos de Drummond, logo cedo recebeu o aviso da sua vocação. E a ele foi fiel a vida inteira.
Como poucos profissionais, dos que não fizeram do seu trabalho o instrumento de engajamento ideologico, Osvaldo Euclides Araújo dominava a arte da escrita com o rigor e a segurança de um escritor.
Seus textos, alinhados na produção bem cuidada de um jornalista independente, marcaram as letras cearenses, ainda que não tenham sido celebrados em vida.
O seu talento, o rigor e o dominio estilístico do idioma do qual se serviu com elegância e precisão são o legado para as novas gerações de jornalistas-escritores.






