
O Focus Colloquium reuniu o cientista político Emanuel Freitas e o publicitário e analista de política Ricardo Alcântara para uma conversa que jogou luz sobre a engrenagem da política brasileira e cearense — um campo cada vez mais movido por pragmatismo, marketing e conveniências. A mediação foi do jornalista Fábio Campos.
O ponto de partida foi a operação policial no Rio de Janeiro, que expôs, mais uma vez, o entrelaçamento entre segurança pública, comunicação e disputa eleitoral. Emanuel Freitas apontou falhas técnicas e de comando, que revelariam improviso e descoordenação entre as forças de segurança. Já Ricardo Alcântara foi direto: “marketing macabro, margem da matança”. Para ele, o timing da operação e sua espetacularização evidenciam cálculo político.
“Quando a operação vem com logomarca oficial e o governador em busca de likes, é mais do que segurança — é espetáculo político”, disse Emanuel.
A pauta da segurança
Os dois analistas convergiram num ponto: a segurança pública voltou ao centro da política nacional. Emanuel destacou a dificuldade histórica da esquerda em articular um discurso que una direitos humanos e força do Estado:
“O monopólio da força legítima precisa ser eficaz. A população quer resultado.”
Ricardo complementou: “O governador do Rio buscou o eleitor conservador. André Fernandes captou isso rápido — pediu aplausos e virou porta-voz digital dessa agenda”.
Quando o Rio vira o espelho do Ceará
Para Emanuel, a repercussão nacional do caso deslocou o foco da imprensa e empurrou o governo Lula a enfrentar a segurança como tema prioritário. No Ceará, esse debate tende a crescer e pautar 2026.
“Agora há imagens, dados, expulsões de famílias, facções mandando nos bairros. A oposição não fala mais de abstração — fala de fatos”, avaliou.
Ricardo ponderou: a pauta da segurança elege parlamentares, mas não governadores. “O Ceará vive isso desde Moroni Torgan. O discurso é forte, mas não forma maioria para cargos executivos.”
Política das conveniências
O eixo da conversa recaiu sobre o título do Colloquium.
Emanuel provocou: “Quem imaginaria Ciro Gomes e Roberto Cláudio ao lado do bolsonarismo no Ceará?”.
Ricardo respondeu: “Não é banal, mas já é compreendido. O corpo político aprendeu a absorver incoerências. A sociedade metaboliza rápido. Memoriza menos.”
Essa fluidez — alianças que se refazem ao sabor das circunstâncias — define o que chamaram de política das conveniências.
Elmano, o retraído
Ricardo traçou um retrato do governador Elmano de Freitas: “É retraído. Se ficar vinte anos no poder, não cria liderança forte.”
Segundo ele, a comunicação do governo já percebeu isso e aposta no coletivo:
“O candidato não é o Elmano. É o governo do Elmano.”
Emanuel completou com um toque de Maquiavel:
“Quem governa com tropas de outro vive sob a sombra do verdadeiro chefe.”
A sombra, no caso, tem nome: Camilo Santana, ainda o grande fiador político do Ceará.
Ciro e o dilema do bolsonarismo
O cientista político avaliou que, se Ciro Gomes buscar o apoio da direita local, terá de rezar parte da cartilha dela. “Arrisca virar o candidato do bolsonarismo no Ceará.”
Ricardo, por sua vez, analisou o contraste:
“Ciro é persona forte, enfático, autoritário. Elmano é governo, não é personagem. Será uma eleição de persona contra projeto.”
O fator econômico
Ricardo lembrou que, em qualquer cenário, a economia define o humor do país:
“É difícil revoltar um homem bem alimentado. O eleitor de oposição precisa de desespero para reagir.”
Emanuel completou: “Com a direita ainda sem nome nacional, o governo tem a vantagem de pautar o jogo.”
Conclusão
O debate terminou como começou: entre o cálculo e a força.
A política, disseram, continua a girar.
Veja a entrvista completa
https://youtu.be/hvI6meg3SVg
 
								






 
													 
													 
													 
													 
													 
													 
													 
													 
													 
													 
													 
													 
													 
													 
													