O Instituto Dr. José Frota (IJF), maior hospital municipal de Fortaleza, é símbolo de uma crise que reflete o que entidades de classe e especialistas chamam de “gestão do desmonte”. Com falta de insumos, medicamentos e assistência à saúde, a unidade ainda enfrenta um déficit de mais de 1.100 profissionais, enquanto três concursos públicos prestes a expirar deixam centenas de aprovados no cadastro de reserva sem perspectiva de convocação.
O cenário crítico
• Déficit estrutural: O IJF acumula carência de 1.147 profissionais, segundo o Ministério Público do Ceará (MPCE), e opera com déficit financeiro mensal de até R$ 10 milhões, de acordo com o Conselho Municipal de Saúde.
• Concursos expirando: Os certames de 2020, com 176 vagas para níveis médio e superior, tiveram seus resultados homologados em dezembro daquele ano e vencem neste mês. Pouco mais de 300 aprovados foram convocados, deixando quase mil no cadastro de reserva.
• Sobrecarga das equipes: A falta de pessoal é suprida por horas extras e ampliação da carga horária, comprometendo a saúde e o desempenho dos trabalhadores.
“Gestão do desmonte” e suas implicações
Entidades como o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço de Saúde de Fortaleza (Sintsaf) atribuem a crise à “gestão do desmonte”, caracterizada por:
• Subfinanciamento da saúde pública: Atrasos em repasses e cortes orçamentários comprometem a manutenção de serviços essenciais.
• Dependência de terceirizações: Atualmente, o IJF emprega cerca de 4 mil trabalhadores, sendo parte significativa terceirizada ou vinculada a cooperativas, precarizando vínculos trabalhistas e reduzindo a qualidade do atendimento.
• Inércia administrativa: A Prefeitura de Fortaleza foi alertada no início do ano sobre o agravamento da crise, mas medidas preventivas não foram tomadas, segundo o Conselho Municipal de Saúde.
Ação do Ministério Público
Na última segunda-feira (2), o MPCE ingressou com uma Ação Civil Pública exigindo:
• Convocação imediata de 88 candidatos do cadastro de reserva antes do vencimento dos editais.
• Apresentação de um cronograma detalhado para convocação e nomeação dos profissionais, garantindo prazos claros e objetivos.
Por que isso importa?
A crise no IJF é um retrato da precarização da saúde pública em Fortaleza. Sob uma “gestão do desmonte”, o hospital, que deveria ser referência, opera em condições críticas, colocando em risco o atendimento à população.
Vá mais fundo
1. Impacto na população: Longas filas, cancelamento de cirurgias e superlotação nas emergências penalizam os mais vulneráveis.
2. Falta de planejamento: Mesmo diante da pandemia, concursos foram realizados sem previsões realistas de contratação.
3. Fim do mandato de Sarto Nogueira: A proximidade do término da gestão atual levanta dúvidas sobre o compromisso em resolver a crise.