
Cardeal e arcebispo histórico de Fortaleza, Dom Aloísio Lorscheider foi papável, refém de um sequestro e personagem citado na ficção mais poderosa do cinema.
O que importa:
Arcebispo de Fortaleza por mais de duas décadas, Dom Aloísio Lorscheider foi um dos nomes mais influentes da Igreja Católica no século XX. Gaúcho de nascimento e cearense por missão, chegou perto do papado, foi citado no roteiro de O Poderoso Chefão – Parte III (escrito por Mario Puzo e Francis Ford Coppola) e protagonizou um dos episódios mais simbólicos da história da fé no Brasil: o perdão ao seu sequestrador.
Quem foi:
• Nascido em Estrela (RS), franciscano, doutor em Teologia, atuou no Concílio Vaticano II e presidiu a CNBB e o CELAM.
• Foi nomeado cardeal em 1976 por Paulo VI.
• Comandou a Arquidiocese de Fortaleza entre 1973 e 1995, tornando-se um ícone da Igreja progressista e defensora dos direitos humanos.
• Participou dos dois conclaves de 1978, sendo apontado como “papável” nos bastidores do Vaticano.
O momento em que virou personagem de cinema:
No filme O Poderoso Chefão – Parte III (1990), dirigido por Francis Ford Coppola, o conclave de 1978 — aquele que elegeu o Papa João Paulo I — é retratado com uma dose de tensão e mistério.
Durante a cena da apuração dos votos, ouve-se:
“99 votos para Lamberto, 11 para Siri, 1 para Lorscheider.”
A frase é lida com solenidade, e o nome de Dom Aloísio Lorscheider aparece como um dos cardeais votados no conclave. Veja o trecho do filme no vídeo abaixo.
O detalhe supostamente não é ficcional: na vida real, Lorscheider teria recebido um voto — justamente de Albino Luciani, que seria eleito João Paulo I e morreu misteriosamente 33 dias depois.
Entre ficção e suspeita:
O filme vai além. O Poderoso Chefão 3 sugere que o Papa João Paulo I foi envenenado, em uma conspiração que envolveria a própria Igreja e a Máfia italiana.
No enredo, o mafioso Michael Corleone (Al Pacino), já envelhecido, tenta se redimir e “limpar” os negócios da família com ajuda da Igreja. Ele recebe uma comenda vaticana e negocia uma grande sociedade financeira com o banco do Vaticano — mas o negócio, como a eleição papal, está cercado por interesses obscuros.
O sequestro que parou o Ceará:
Em março de 1994, durante uma visita pastoral ao Instituto Penal Paulo Sarasate, Dom Aloísio foi surpreendido por uma rebelião e feito refém por 20 horas (Veja aqui um vídeo do momento do sequestro)
• O detento que o manteve sob ameaça era conhecido como “Carioca”.
• Ao ser libertado, Lorscheider recusou qualquer punição aos presos e retornou ao presídio poucos dias depois.
• Lavou os pés de 12 detentos, inclusive o seu sequestrador, em um gesto de fé radical que comoveu o país.

Entre as linhas:
Poucos religiosos uniram tanto poder simbólico, influência institucional e humildade cristã como Dom Aloísio.
• Quase papa, reconhecido em Roma e Hollywood, não hesitou em ajoelhar-se diante dos pobres — mesmo quando esses o feriram.
Legado:
Faleceu em 2007, aos 83 anos.
• Tornou-se um símbolo de reconciliação e coragem moral.
• Para o Ceará, é eterno: um cardeal com rosto de povo e destino de profeta.