O impacto econômico e social das deportações em massa nos EUA

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Donald Trump

O fato: A possível deportação em massa de imigrantes nos Estados Unidos, proposta pelo ex-presidente e atual candidato Donald Trump, pode causar um impacto significativo na economia e na sociedade do país. Durante sua campanha, Trump anunciou que, se eleito, realizaria “a maior operação doméstica de deportações da história americana”, removendo todos os imigrantes ilegais até o fim de seu mandato.

Uma pesquisa divulgada em julho de 2023 pelo Pew Research Center apontou que havia cerca de 11 milhões de imigrantes não autorizados vivendo nos Estados Unidos em 2022. Esse grupo representava um contingente de 8,3 milhões de trabalhadores, atuando em setores fundamentais da economia norte-americana.

Os receios de que Trump possa colocar sua promessa em prática cresceram após milhares de imigrantes serem detidos e deportados para países como México, Colômbia e Brasil, poucos dias depois de ele assumir a presidência. Caso a medida seja ampliada, pesquisadores apontam que o déficit de mão de obra resultante pode gerar impactos devastadores para a economia.

Impacto econômico: “Se a gente considerar que a retórica do Trump será concretizada, o impacto para o americano comum seria absurdo. Várias indústrias seriam colocadas em caos, pelo menos no curto prazo, particularmente a indústria alimentícia, que é absolutamente dependente de mão de obra subempregada, de imigrante ilegal”, afirma Thaddeus Gregory, pesquisador do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A professora da Fundação Getulio Vargas (FGV) Carla Beni explica que setores como a coleta de frutas e a indústria de laticínios seriam fortemente afetados. “A grande população que trabalha nas fazendas, executando toda essa produção, recebe menos porque não tem documentação. Ele não tem documentação e é explorado pelo empresário americano ou mesmo por um outro empresário imigrante que já está legalizado”.

Gregory ressalta que esses empregos estão disponíveis para qualquer americano, mas que poucos aceitam essas condições. “A maioria não quer trabalhar coletando tomates a 5 dólares por hora. Como os empresários vão lidar com essa enorme necessidade de mão de obra barata?”, questiona.

Outro setor que pode sofrer impactos é o de serviços, especialmente pequenas empresas como lavanderias, restaurantes e jardinagem. Muitas dessas empresas são, ironicamente, geridas por apoiadores de Trump, que poderão enfrentar dificuldades para manter seus negócios funcionando sem os imigrantes.

O professor de História da América Roberto Moll, da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica que um projeto de deportação em massa pode elevar o custo da mão de obra, o que, por sua vez, resultaria em aumento dos preços e da inflação. Isso poderia levar o Federal Reserve, banco central dos EUA, a elevar os juros, afetando a competitividade das empresas no país.

O medo da deportação também pode agravar a exploração dos imigrantes que permanecerem. “Com receio de demandar melhores salários e condições de trabalho, essas pessoas podem ser submetidas a uma precarização ainda maior, aceitando condições ainda mais degradantes para evitar serem denunciadas”, explica Rubens Duarte, coordenador do Laboratório de Análise Política Mundial (Labmundo).

Impacto social: As deportações em massa extrapolam o lado econômico e afetam diretamente as famílias imigrantes. Segundo o Pew Research Center, mais de 4,4 milhões de crianças e adolescentes nascidos nos Estados Unidos vivem com pelo menos um imigrante não autorizado. Para Roberto Moll, isso significa que a separação de famílias será uma consequência inevitável.

“Provavelmente um quarto da população americana é potencialmente afetada por essas decisões, com medo de que eles e seus entes amados possam ser deportados. Obviamente, haverá populações muito mais vulnerabilizadas por essa política do que outras”, afirma Thaddeus Gregory.

Além do impacto direto nas famílias, a adoção de uma política de tolerância zero à imigração pode gerar um clima de medo e desconfiança na sociedade americana. Carla Beni destaca que esse tipo de política estimula a denúncia de imigrantes, criando um ambiente de paranoia e prejudicando o tecido social.

Para Rubens Duarte, há ainda um elemento contraditório e hipócrita na retórica anti-imigração. Os Estados Unidos são historicamente uma nação de imigrantes. Em 2022, o Pew Research Center estimou que 48 milhões de estrangeiros viviam no país, dos quais 77% estavam em situação legal. Já o Censo norte-americano de 2022 apontou que apenas 4,4 milhões de habitantes pertencem a povos indígenas originários, o que significa que mais de 98% da população é composta por imigrantes ou seus descendentes.

“Esse país de imigrantes, que muitas vezes celebra o que chamam de melting pot, agora fecha as portas, algema as pessoas e as expulsa do país. Isso certamente terá consequências na construção da identidade dos americanos e na forma como o resto do mundo os percebe”, destaca Duarte.

Trump e as incertezas sobre a política migratória: Ainda não é possível afirmar se Trump realmente cumprirá suas promessas de campanha caso seja reeleito. “Tudo depende de como a retórica dele será transformada em ações concretas. A retórica é das mais terríveis possíveis, mas se isso se traduzirá em um aumento real das deportações, ainda temos que ver”, avalia Thaddeus Gregory.

Para Roberto Moll, o impacto das deportações na economia e na sociedade pode levar empresários a pressionarem Trump para amenizar as medidas. No entanto, a repressão pode movimentar a economia do setor de segurança, ao mesmo tempo em que gera insegurança entre os trabalhadores imigrantes, forçando-os a aceitar condições ainda mais precárias.

Com informações da Agência Brasil

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