Por Edson Santana
Post convidado
Somos mais de 1 milhão e 300 mil advogados devidamente registrados e em atuação hoje no Brasil. Uma verdadeira legião de profissionais obstinados e dedicados a estabelecer a justiça e o cumprimento das leis em cada rincão deste continental território.
Somos mais de 1 milhão e 300 mil cidadãos, com rosto, com nome e com a valorosa missão de defender os direitos dos indivíduos por meio de tanto conhecimento adquirido em anos e anos de estudo a fio, leituras mil, de preparação e de construção de uma reputação que nos acompanha por toda a vida.
Uma classe indispensável para o bom funcionamento de uma sociedade que insiste – o que é excelente – em transmutar, se remodelar, ressignificar ideias e pensamentos, que é cada vez mais questionadora e que constantemente discute o curso de temáticas sociais complexas. Aliás, complexidade pode facilmente ser um dos sobrenomes dessa mesma sociedade.
E por falar em sociedade e suas nuances, não há como fechar os olhos para o cenário atual. O surto pandêmico alterou significativamente o compasso, o ritmo e a forma de se enxergar presente e futuro. Os efeitos do vírus atingiram muito além da saúde humana, sendo responsável direto por uma das maiores crises da História. A recessão mundial, consequentemente, fechou muitas portas – umas temporariamente, outras para todo sempre, e centenas de escritórios de advocacia não suportaram o peso dessa instabilidade e encerraram suas atividades.
O panorama pós-pandemia ainda está sendo reajustado, repaginado. Seguimos vivenciando um mundo onde cada passo tem sido dado com maior cuidado, já que o desequilíbrio causado pela doença que quase colapsou o planeta ainda é visível. Diante disso, um dos questionamentos é: como o advogado pode se reposicionar nesse universo?
O empreendedorismo surge como uma importante solução para a classe. O advogado cada vez mais enxerga – além de leis e normas – essa constante evolução da contemporaneidade, acentuada na pós-pandemia. É necessário se reinventar. Hoje, é preciso ir mais além, acompanhar as novas tendências e buscar estar a par dos movimentos do mundo nessa espécie de labirinto de novas possibilidades. Empreender passou a fazer parte da rotina de muitos de nós, além de se tornar uma forma de enveredar por novos caminhos. Tudo isso sem nenhum tipo de mercantilização da profissão.
Você já ouviu falar em legal copywriting? Lawtechs? São algumas das novas práticas jurídicas que estão atraindo muitos olhares e adeptos, conceitos que fazem parte de uma nova era em comunicação. São os efeitos práticos da globalização. Para quem ainda desconhece, legal copywriting é uma tendência na carreira jurídica, quando o advogado escreve conteúdos sobre advocacia para o mercado com a finalidade de compartilhar conhecimento com os demais. Já lawtechs são startups jurídicas, isto é, empresas que investem em tecnologia – como inteligência artificial, ferramentas de análise de dados, machine learning, entre outras – para resolver questões legais.
São caminhos que podem – e devem – ser trilhados pelos profissionais do Direito, já que envolvem aprendizado, sofisticação e chance de fazer algo único, ímpar. É o futuro diante dos nossos olhos. Um novo universo de possibilidades e oportunidades.
Entretanto, há um certo saudosismo relacionado à Ordem dos Advogados do Brasil quando falamos em estímulo, apoio e incentivo a tudo isso. Uma lacuna que salta aos olhos, principalmente quando visualizamos a realidade desses tantos empreendimentos advocatícios que cessaram suas ações dentro desse período pandêmico. São milhares de jovens advogados e advogadas, ainda iniciando suas trajetórias no meio jurídico, e que também se sentem desamparados e desguarnecidos por parte de quem deveria acolhê-los, abraçá-los.
A OAB tendo como principais missões e atribuições zelar pela advocacia, poderia abrir caminhos, criar mecanismos e possibilidades que facilitem a vida de seus representados, fomentar políticas que auxiliem o cenário jurídico diante das intempéries, ser muito mais participativa no desenvolvimento de novos métodos de trabalho e assim por diante. Afinal a OAB é a casa do advogado – ou devia ser – mas sentimos que hoje isso não é algo tangível.
Estamos sentindo a saudade da Ordem que amparava e direcionava. O mercado está se abrindo para o novo, o moderno, o tecnológico. O mundo digital está crescendo de maneira acelerada, frenética, e precisamos ser inseridos nessa nova realidade. Não é apenas um anseio, trata-se de uma exigência diante de constatações.
Os meus esforços enquanto membro deste universo do Direito, enquanto entusiasta do pleno exercício do direito, enquanto membro fundador do Sindicato dos Advogados, enquanto empreendedor são para que esses temas possam levar esperança e fomento aos talentosos profissionais espalhados pelo nosso Brasil. Que portas não mais se fechem, pelo contrário, cada vez mais sejam abertas, tanto dos escritórios quanto do universo digital. As ferramentas que nos conduzem à evolução dos tempos estão debaixo do nosso nariz, basta não parar no tempo e seguir acompanhando essa metamorfose que o mundo vem sofrendo a cada ano, a cada mês, a cada dia.
A busca por novos conhecimentos, estratégias empresariais e técnicas de empreendedorismo precisa ser incessante. O mundo muda, o mercado muda, os clientes mudam, então que mudemos juntos para melhor. Somos forjados nas constantes lutas e mudanças de cada dia, e assim seguiremos construindo uma advocacia sempre mais capacitada, sólida e conectada. Esse é o meu sonho. O meu e de tantos outros amantes do Direito que comemoram com resiliência e otimismo os caminhos por chegar.
Nota do editor: os pontos de vista assinados por colaboradores não refletem necessariamente o pensamento do Focus.jor, sendo de total responsabilidade do(s) autor(es) as informações, juízos de valor e conceitos divulgados.
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