Receitas para “invenção” do Brasil; Por Paulo Elpídio de Menezes Neto

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“Teremos, sempre, um Cromwell ou um Fouché a manejar os cordões de um teatro de marionetes, presente o personagem Guignol — fantoche, satírico e violento — a quem não faltava, todavia, criatividade para contar histórias divertidas e cruéis.”

O poder político alcançado na França por Joseph Fouché foi construído a partir de estratégias de rara diligência e oportunismo.

Filho da pequena nobreza, Fouché somou o enriquecimento pessoal à criação de um aparato policial poderoso, dotado de um sistema de informações e espionagem que ainda hoje inspira ditadores em todo o mundo.

A chantagem, sustentada em registros e provas produzidas por sua máquina de suspeições, tornou-se instrumento do terror e do ódio, tanto na monarquia quanto no império. Sua influência atravessou os regimes: fez-se notar na Convenção, no Diretório, no Consulado e no Império — ora apoiando Napoleão, ora tramando contra ele com astúcia.

Fouché ainda teria papel decisivo no Governo Provisório de 1815 e na Restauração Bourbon.

Como Cromwell (1599–1658), primeiro-ministro durante o reinado de Carlos I na Inglaterra, Fouché (1759–1820) criou uma rede de cumplicidades e poder discricionário que o transformou em um dos personagens mais temidos e influentes do seu tempo. Ambos compreenderam que, nos bastidores do Estado, o controle da polícia, do judiciário e dos exércitos — sem falar nas alianças com as forças religiosas — é o que confere aos governantes poder e uma aparência de legitimidade diante da nação.

No Brasil, como em grande parte da América Latina, o que se consolidou foi um modelo constitucional deformado, que resultou em uma democracia de conveniências — uma construção adaptada às nossas inclinações autoritárias ancestrais.

As crises recorrentes de poder, somadas às vicissitudes sociais e econômicas que atravessam nossa história, produziram artífices do Leviatã: engenhosos, produtivos, e muitas vezes cruéis.

Aprendemos, ao longo dos séculos, a conviver, respeitar e até aderir às fontes da autoridade, desde a Colônia até o Império, passando pelas sucessivas rupturas da ordem constitucional.

Nesse percurso, nobreza, burguesia e povo participaram, cada um à sua maneira, da longa e turbulenta tarefa que chamamos — com um misto de ironia e esperança — de “a invenção do Brasil.”

Paulo Elpídio de Menezes Neto é articulista do Focus, cientista político, membro da Academia Brasileira de Educação (Rio de Janeiro), ex-reitor da UFC, ex-secretário nacional da Educação superior do MEC, ex-secretário de Educação do Ceará.

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