Stop Making Sense: 40 anos depois, o filme-concerto dos Talking Heads continua inebriante

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Foto: Divulgação

O cinema, como bem sabemos, possui a sublime capacidade de nos transportar para diferentes épocas e locais, proporcionando experiências tão imersivas quanto um sonho acordado. Dito isso, como fervoroso admirador da banda Talking Heads, jamais imaginei que teria a oportunidade de vivenciar um dos maiores espetáculos da história do rock e da música, quatro décadas após sua realização.

Isso porque, felizmente, no início dos anos 1980, o diretor Jonathan Demme, ainda em seus primeiros passos na carreira, propôs a David Byrne, compositor e vocalista da banda, a ideia de filmar um show do grupo. Apesar das dúvidas iniciais, Byrne aceitou o desafio do cineasta, que era um fiel admirador dos rockeiros na época, e o resultado… bem, foi um testemunho extraordinário que continua incomparável até hoje.

Demme, que anos mais tarde dirigiu o clássico absoluto “O Silêncio dos Inocentes“, com Anthony Hopkins e Jodie Foster, capturou, em dezembro de 1983, através de quatro noites de shows dos Talking Heads no Hollywood Pantages Theatre, uma verdadeira obra-prima de som e imagem. Nunca foi sorte… tinha talento de sobra ali, tanto do diretor quanto dos músicos.

Intitulado “Stop Making Sense”, o filme-concerto resultante dessa colaboração estabeleceu-se imediatamente como um paradigma de como documentar um show de quase 90 minutos com maestria. Passadas quatro décadas, muitas tentativas foram realizadas para replicar esse feito, mas poucas conseguiram igualar a perfeição alcançada pelo diretor e pela banda. De fato, para muitos estudiosos da linguagem cinematográfica, Stop Making Sense permanece como o maior filme-concerto da história do audiovisual. Quão extraordinário seria se outras bandas tivessem a sorte de contar com a direção de um verdadeiro mestre…

O filme

Foto: Divulgação

O trabalho abre com Byrne, solitário no centro do palco, tocando um “Psycho Killer” em versão acústica. O início do espetáculo é envolto em uma aura (cômica) de desconexão, acentuada pela movimentação extraterrestre do cantor. Minutos depois, a energia do palco vibra ainda mais com a força avassaladora da entrada da baixista Tina Weymouth.

A partir desse momento, o show se transforma em um verdadeiro olímpio com a chegada dos outros integrantes da banda — o guitarrista Jerry Harrison e o baterista Chris Frantz, que permanece casado com Tina até hoje.

O espetáculo se enriquece ainda mais com a presença de cinco artistas convidados: o tecladista Bernie Worrell, as backing vocals Lynn Mabry e Ednah Holt, o guitarrista Alex Weir e o percussionista Steve Escalas. Mestres da black music, todos contribuíram para tornar a manifestação uma aventura inclassificável. Todos ali estavam dispostos o suficiente para transformar cada música em um evento único.

Filme com F maiúsculo

Na projeção, Demme, acertadamente, optou por não revelar a plateia até as últimas músicas, uma escolha que, ao ser vista em uma tela grande, nos transporta diretamente para 1983, especificamente naquele show. Esse artifício nos faz sentir parte da plateia e da celebração como um todo.

Além disso, a atenção meticulosa aos enquadramentos de Jordan Cronenweth (conhecido por Blade Runner) e à montagem de Lisa Day confere ao filme uma qualidade épica, capaz de impressionar tanto pela beleza sonora quanto pela excelência visual. O trabalho da equipe evoca uma gama diversificada de emoções ao explorar cada detalhe do palco, criando uma experiência audiovisual verdadeiramente sublime.

“Stop Making Sense”, relançado pela produtora americana A24, oferece uma rara oportunidade de nos sentirmos parte de algo maior e de vibrar ao lado de algumas das mentes mais criativas da época. Uma capacidade que o cinema, e nenhuma outra mídia, consegue com tanta potencia.

Por fim, o público, eternizado nas filmagens, se mistura com o espectador que, involuntariamente, preenche a sala com aplausos. Após a vivência, poderia escrever quilômetros e quilômetros de palavras para detalhar esses 88 minutos, mas, na falta de uma expressão mais elegante, deixo o registro de que assistir esse show em uma tela grande de cinema é uma experiência absolutamente do caralho. Por isso, vejam com urgência.

Confira o trailer:

O filme está em cartaz em várias sessões no Brasil. 

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