Há exatamente um ano, eleitores de Fortaleza compareciam às urnas naquela que entrou para a história como a eleição mais competitiva da Nova República. Os institutos de pesquisa apontavam, da sexta ao sábado que antecediam o pleito, um empate técnico inacreditável: 50% dos entrevistavam apontavam voto em André Fernandes (PL), enquanto outros 50% em Evandro Leitão (PT).
Apesar disso, um dos institutos publicizava dado importante: mais da metade dos entrevistados apontava que seria André o vencedor (56%), ao passo que pouco mais de um terço (35%) apontava Evandro como o vitorioso.
Naquele domingo, quem passasse pela Avenida Raul Barbosa veria, desde cedo, uma grande movimentação no entorno do comitê central de Fernandes. A festa, contudo, não se concretizou.
Evandro venceu com uma pequeníssima diferença de 10.838 votos, ou 0,76 pontos percentuais, num resultado cravado em 50,8% a 49,62%, quase que reproduzindo o número que resultou da disputa Lula x Bolsonaro em 2022.
De fato, uma disputa que opôs o jovem André contra a poderosa máquina objetivada por Lula-Camilo-Elmano; contra os líderes de peso pesado, a gramática e a capilaridade das redes. E sem o bolsonarismo à frente.
Quarenta anos após a eleição de Maria Luiza Fontenelle (1985) e vinte anos após Luizianne Lins (2005), o partido volta à governar a capital. A cor da campanha, contudo, já não era mais o vermelho, mas o branco camilista e aliancista.
Haja coração!
Vencedor no primeiro turno, numa surpreendente campanha que mobilizou intensamente a juventude de Fortaleza, obrigou seus adversários a falar a gramática das redes e com a presença de importantes nomes do bolsonarismo nacional (com destaque para Nikolas Ferreira [PL-MG]), André saiu do pleito como a grande voz da oposição – não da capital, que não pareceu ser bem o seu objetivo (como o tempo está a dizer), mas do estado.
Não fosse o episódio do “porco”, dizem ainda alguns muitos, e o resultado teria sido diferente.
Aliás, o processo contra o vereador Inspetor Alberto no episódio do “porco” foi solenemente arquivado pela Câmara Municipal.

Passado um ano, podemos considerar três questões a partir daquela eleição:
1- O quadro interno do PT:
Sem sombra de dúvida, aquela eleição significou o fortalecimento interno de Camilo Santana no interior do PT estadual, uma vez que o ingresso de Evandro na sigla fez parte de um sem número de neofiliados gerados pelo camilismo, a quem se juntou o governador Elmano de Freitas, emplacando e empoderando um novo grupo na legenda: na presidência estadual, Conin, e na capital, Antonio Carlos.
Isso posto, a divisão de poder interna põe o grupo vitorioso frente a outras duas forças: a de José Guimarães, que insiste na candidatura senatorial, e a de Luizianne Lins, que não conseguiu emplacar suas aliadas Mari Lacerda e Adriana Almeida, em secretarias e nem nos postos de comando da legenda.
Tarefa importante será observar as movimentações intrapartidárias para 2026.
2-O fortalecimento (?) da oposição:
Com a expressiva votação de André, assim como as vitórias em Sobral e Juazeiro do Norte (para citar apenas essas três cidades), a oposição estadual viu-se como fortalecida com vistas ao pleito de 2026. É que, em 2022, o quadro foi de derrota acachapante, com a vitória de Elmano de Freitas e do camilismo ainda em primeiro turno.
O fortalecimento, contudo, esbarrou no limite etário de André para a disputa que se aproxima, levando seu grupo a ter de juntar-se a veteranos opositores do PT no Estado, com destaque para Roberto Cláudio e Ciro Gomes, com vistas à viabilidade eleitoral para o Palácio da Abolição em 2026. União essa já observada no arco que se reuniu em torno de André no segundo turno.
Assim, fortalecida mas com a necessidade de ajuda extra. As movimentações até agora desenroladas põem o grupo na dependência da aliança-amizade entre Ciro e Tasso Jereissati, obrigando-o a mirar no passado para se projetar para o futuro. Não sem questionamentos públicos, com destaque para aqueles feitos pelo senador Eduardo Girão.
3-Governabilidade:
Garantido pelo bom e velho governismo, Evandro não convive com uma oposição considerável na Câmara Municipal. Elegeu um aliado seu, vereador Léo Couto (PSB) como presidente da Câmara. Ampliou o número de secretarias. Iniciou o governo com o cumprimento de uma promessa: a revogação da taxa do lixo. Conseguiu reunir no bloco PT-PSD-PSB-PDT-nanicos o núcleo duro que lhe dá sustentação no Parlamento, aprovando sem grandes sobressaltos as demandas do Executivo, incluindo aí empréstimo de R$ 200 milhões.
Aquela eleição sinalizou, para a oposição, a possibilidade de vencer poderosas máquinas políticas ao conduzir a campanha de modo propositivo e com alianças com antigos desafetos. É dela, e não do governo, que têm vindo as principais movimentações em vistas do pleito que se aproxima, incluindo desfiliações, filiações, refiliações, cafés, arrependimentos, juras de amor. Também, querelas internas, como a que se observa no PL em torno d candidatura senatorial. E também trouxe ao governo a sensação de que haverá muitos interesses a contemplar.
Mostrou também que a política ainda é capaz de seduzir, despertar paixões (especialmente da juventude) e mobilizar afetos – é possível colorir a cidade com os tons da disputa. Opor lados, fazendo-os disputar projetos; que não sejam, apenas, a sombra de caciques e a mostra de quem está sobre elas.
2026 está aí.







