Quando grupos armados do Hamas cruzaram a fronteira, mataram ou sequestraram mais de uma centena de inocentes, apenas confirmaram o sentimento de impotência que move o desespero terrorista, o equívoco político que representa como método e uma desumanidade cujas responsabilidades de criminosos não devem jamais serem atenuadas sob qualquer argumento.
Aliás, não foram poucos, os especialistas em IS (Inteligência e Segurança) que duvidaram da versão oficial de Israel, que imputou ao seu avançado serviço secreto, o Mossad, a falha grave de não ter prevenido o ataque do Hamas. Para quem domina o assunto, em condições normais uma operação com tantas camadas de procedimentos jamais passaria invisível aos sensores do Mossad. Diversos, por todo o mundo, registraram seu estranhamento.
Ou seja, é tal o estado de coisas ali que a versão diabólica, triste constatar, é a mais pertinente: o aparato de IS de Israel deixou a barbaridade acontecer para, usando seu efeito como catalisador na opinião pública interna, criar as condições necessárias para uma reação na proporção em que se deu. Difícil acreditar? Sim, sempre será, mas descrer, igualmente.
Ao fim, Israel obteve ganhos notáveis na esteira da alegada necessidade de resgatar seus compatriotas do cativeiro terrorista. No maior deles, desmantelou o até então muito bem equipado Hezbollah no sul do Líbano, enquanto liquidava a fortaleza territorial do Hamas em Gaza e criava sérios contratempos ao programa nuclear do patrono de toda essa bagunça, o regime dos aiatolás no Irã, obtendo até mesmo a interferência militar direta dos EUA. Ajuntado assim, se vê que pouca coisa não foi.
No entanto, o fortalecimento das posições sionistas como efeito de uma operação desde o início francamente genocida se deu a um custo intangível muito elevado para o povo judeu, que soterrou, entre os escombros de cimento e carne da cidade de Gaza, sua vantagem moral como tributário do holocausto nazista. A vítima se fez algoz, em face das circunstâncias, com desconcertante naturalidade. E, assim, a palavra Israel nunca mais soará amena aos ouvidos do mundo.
Benjamin Netanyahu e a ortodoxia judaica que controla o alto comando militar de Israel não agiram à revelia da vontade dos israelitas judeus. Não! Pesquisas de opinião do IDI/Universidade de Tel Aviv, uma instituição pública nacional, revelavam no curso dos acontecimentos que toda a pressão interna, da sociedade civil, se dava na direção de priorizar o resgate dos compatriotas reféns e nunca foram suficientemente condenatórias dos métodos genocidas de seu governo. Fato estatístico. Intolerável admitir, mas foi assim .
Bem, inicia hoje, 10 de outubro, uma longa travessia no Oriente Médio em busca de paz. Uma paz precária, pois a criação do Estado palestino não é parte do plano. E mais precária ainda porque não onera Israel com a responsabilidade de reconstruir nada de tudo que lá destruiu. Quem o fará e a que custo? O plano não especifica isso, como não detalha outras importantes etapas.
Israel fez o que fez sob a sombra protetora dos interesses imperialistas do Estado Norte americano no Oriente Médio. E a Palestina não é um Estado independente porque, não tendo petróleo a oferecer, não tem aliados internacionais de fato. Muitos levantam a voz pela Palestina, mas, como ninguém tem contratos a cumprir por lá, por ela também ninguém se arrisca a perder um dedo. E isso é a vida como ela é.
