A carta de Lula aos evangélicos chegará aos destinatários?

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne com líderes de igrejas evangélicas em São Paulo. Foto: Facebook

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Por Yuri Sanches

Há muito tempo uma ala da campanha de Lula pretendia divulgar uma carta do ex-presidente endereçada aos evangélicos. O motivo da reticência era a preocupação em não ser pautado pelo presidente Jair Bolsonaro e não fazer o debate eleitoral desembocar na agenda religiosa de costumes que é o terreno preferido de seu oponente.

Agora, observando que o discurso voltado para a fragilidade econômica e a pobreza no país tem suas limitações eleitorais, Lula cedeu.

A carta traz compromissos para o futuro, mas também relembra o passado. Diante de ataques que o acusam de ameaçar fechar igrejas e perseguir cristãos, Lula teve que reafirmar seu compromisso com a liberdade de culto e relembrar que em seu governo assinou decretos que criaram o Dia da Marcha para Jesus e o Dia Nacional dos Evangélicos.

Arriscou desagradar aqueles mais progressistas de sua base, mas marcou posição e declarou ser “pessoalmente contra o aborto”. Além disso, afirmou que, em um eventual governo seu, jamais usaria símbolos da fé cristã para fins político-partidários, respeitando a separação entre Estado e Igreja.

O real impacto da carta pode frustrar a campanha
O movimento de Lula é importante para firmar oficialmente uma posição diante dessa parcela do eleitorado e estabelecer um contraponto ao que diversos pastores muito influentes no meio evangélico têm pregado a seu respeito. No entanto, seu impacto real sobre o voto evangélico é baixo.

Para que pudesse haver algum impacto relevante, Lula teria que falar diretamente ao fiel. Para falar diretamente, ele precisaria, no mínimo, da neutralidade eleitoral dos líderes de igrejas em seus púlpitos ou redes sociais. Faltando menos de duas semanas para a eleição, não é isso o que se vê.

O que se impõe, então, é que estrategicamente Lula precisaria atingir primeiro os pastores e líderes evangélicos em seu esforço de aproximação. Eles, sim, têm a capacidade de influenciar o voto do fiel. Idealmente, a maior vitória de Lula seria convencê-los a não buscarem influenciar o voto das congregações de forma alguma.

Assim, estaria liberado o canal de diálogo entre candidato e eleitor sem o filtro da preferência ideológica da autoridade religiosa. Esse trabalho de longo prazo, contudo, não se encaixa na urgência do calendário eleitoral e esbarra em questões estruturais internas do evangelicalismo brasileiro.

No entanto, cartas precisam chegar aos seus destinatários para que gerem um diálogo. Mais que isso, precisam ser lidas. A carta de Lula tem grandes chances de ser extraviada ou sequer ser aberta.

*Focus tem um acordo de compartilhamento de conteúdo com a PollsterGraph

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