O gato de Schrödinger. Por Angela Barros Leal

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Ontem, por duas vezes, devido a alguma estranha conjunção dos astros, encontrei em leitura duas referências ao “gato de Schrödinger”, descrevendo situações na qual se registrava um paradoxo. 

Erwin Schrödinger, físico quântico austríaco, nascido no ano de 1887 e ganhador do Prêmio Nobel em 1933, propôs uma excêntrica experiência mental visando desqualificar conclusões obtidas por cientistas noruegueses quanto ao estado de uma partícula subatômica, que poderia se encontrar em todos os estados ao mesmo tempo.

Pelo menos é o que entendi até aqui, a partir da explicação minuciosa que me foi prestada por um paciente físico teórico, familiarizado com as artes da física quântica.

A experiência parte da suposta colocação de um gato, dentro de uma suposta caixa, hermeticamente fechada. Essa estranha proposta torna-se ainda mais complexa pelo fato de ter sido colocada, no interior da dita caixa, uma certa quantidade de partículas radioativas mortais, capazes de circularem (ou não) pelo espaço interno, em um dado intervalo de tempo, mantendo mortífera convivência com o dito gato. 

Se as partículas radioativas não se encontrarem em circulação dentro do espaço fechado, após 1 hora o bichano pode estar vivo. Caso estejam circulando, é certo que o pobre gatinho tenha partido para o paraíso dos felinos, onde os pássaros voam ao alcance das patas e o leite morno é servido em pires de ouro.

Como somente após a abertura da caixa será possível conferir se o gato está vivo ou morto, os físicos interessados em descobrir o estado de uma partícula subatômica poderiam presumir – por extensão – que o gato se encontre, ao mesmo tempo e paradoxalmente, vivo e morto.

A explicação me foi prestada pelo supramencionado físico teórico, em língua portuguesa, em voz pausada, contando com o indispensável auxílio de ilustrações, qual tivesse eu 3 anos de idade. Ainda assim o entendimento demora a chegar. Não disponho da base intelectual necessária para absorver a situação única em que se encontram as partículas subatômicas, ou superatômicas, outão somente atômicas. 

Nunca me debrucei sobre livros que mostrassem as belezas e deslumbramentos da física. Jamais estudei números imaginários, esse universo exótico no qual a letra i pode integrar, ou marchar em paralelo, à nossa conhecida sequência dos números naturais de zero a nove. Em tempo algum senti a mínima pontada de interesse pela aceleração, pela difração, pelo que fazem ou deixam de fazer os bósons, prótons, cátions, massas e mecânicas, esse metaverso quase filosófico com o qual existimos em abençoada ignorância.

Sei que vivemos em um mundo formatado pela física, mas percebo em poucos pontos a ligação existente entre suas leis e a minha rotina diária, caseira, doméstica. 

Tenho ciência de que os objetos costumam cair ao chão (Lei da Gravidade). Que um corpo em repouso tende a permanecer nesse estado (Princípio da Inércia), fato observável por tantos corpos, nas primeiras horas da manhã. Que é necessário força para alterar o repouso e gerar movimentos. Que a uma ação sempre se opõe uma reação igual e contrária, impondo um firme “não” a qualquer comando dado para que algo seja feito.

Com tristeza, sei que nossa busca pela ordem, nossa batalha diária pela manutenção dos objetos em seus devidos lugares, pela própria permanência das coisas, é uma luta que se dá em vão: a culpa é da entropia, conceito que aponta a tendência das partículas (sempre elas…) à desordem. Pela física, portanto, sei que estamos fadados ao caos.

Para desviar o assunto do gato, e não deixar exposto o tamanho incomensurável da minha incompreensão, apelo para manobras diversionistas junto a meu paciente explanador. 

Que tamanho teria a tal caixa, seria ela de pequeno porte, como uma caixa de sapatos, ou uma caixa grande como uma cesta de Natal? Haveria, no lado de dentro, um mínimo de água e alimento, facilitando a subsistência do gato? Do modo pensado por Schrödinger, seria o animal um filhote cheio de vida, ou um gato maduro, resignado à morte por partículas radioativas? E ele, Schrödinger, seria tutor de gatos ou os odiaria? Senão, por que um gato na caixa, e não um coelho, ou um passarinho? Será que daí nasceu a expressão “pensar fora da caixa”?

Após a justificada desistência do mestre de física, frustrado com a amplitude do meu desconhecimento, percebo que o ensino me foi útil, permitindo incorporar a meu vocabulário, com razoável segurança, a frase “igual ao gato de Schrödinger” – frase perfeita para demonstrar como me sinto na reta de chegada de mais uma sexta-feira, como essa, na qual desembarco imersa no Princípio da Incerteza: sem saber se estou viva, morta, ou fisicamente mais uma morta viva…

 

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