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Negacionismo e medo. Por Álvaro Madeira Neto

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Alváro Madeira Neto é médico sanitarista e gestor em Saúde. Foto: Divulgação

O medo foi descrito no livro de Genesis. Ele surge logo depois do relato chamado de pecado original. Que sentimento é este que, tantas vezes, está presente em nossas vidas?

Se eu perguntasse o que você estava fazendo há um mês, é pouco provável que se lembraria. Mas, se eu perguntasse o que estava fazendo no dia 11 de setembro de 2001, portanto, há mais de 22 anos, provavelmente você saberia. O que faz você se lembrar tão bem da queda das torres gêmeas e do pentágono norte americano atingido há tanto tempo não é só o forte impacto emocional, mas sim, o medo mundial que aquele fato gerou.

O lugar, até então, tido como o mais seguro do mundo, havia sido atingido em seu coração. Aquele sentimento mundial, inicialmente, paralisou a todos e em seguida moveu o Estado Norte Americano em direção à política antiterror.

O pior do que o medo em si, é o que ele gera. Com a finalidade de devolver a segurança e a sensação de segurança, que estavam gravemente feridas, esta política, relativizou garantias individuais, que até aquele marco, eram tidas como um verdadeiro tesouro. O alvo final do terror, não era o Pentágono, nem as torres do World Trade Center. O objetivo fundamental dos terroristas era atingir os valores que sustentavam a democracia, o respeito aos direitos humanos e a liberdade.

Se observarmos bem, vamos perceber, que não foram os ataques em si, que conseguiram abalar concretamente aquelas estruturas. O abalo à liberdade foi resultado do desdobramento do medo por eles originado. Quem ganhou então? A política antiterror?

O medo é um sentimento que tem uma tripla ação. Ele incialmente paralisa, em seguida turva a visão do mundo e da realidade e por último, ele pode mover para a realização de ações, ou de tomada de posições descabidas e desastrosas. É o que temos visto com um claro movimento negacionista antivacina.

Mesmo com os dados científicos que comprovam a eficácia das vacinas, o movimento antivacina se foca nas questões de efeitos colaterais sem sustentação epidemiológica, em uma “resposta natural” do corpo e em pesquisas paralelas inconsistentes, que desafiam a eficácia e a segurança dos imunizantes. Essa postura gera pânico na população e com isso, abala as crenças e certezas de muitos brasileiros, impactando assim nos índices de cobertura vacinal como um todo.

A pandemia de COVID-19, configurando-se como a mais grave emergência de saúde pública do último século, registrou, até janeiro de 2024, aproximadamente 38,2 milhões de casos e 708 mil óbitos no Brasil, colocando o país em destaque negativo no cenário global da doença. A despeito do término da Emergência de Saúde Pública decretada pela OMS em maio de 2023, a situação no Brasil permanece desafiadora, não estando a pandemia plenamente controlada.

Especificamente em relação ao público infantil, o Brasil contabilizou 5.310 hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e 2.115 casos de Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) pós-COVID em 2023, resultando em 135 e 142 óbitos, respectivamente. Estes números sublinham a importância de políticas públicas efetivas para sua proteção.

O Programa Nacional de Imunizações (PNI), estabelecido em 1973, é reconhecido internacionalmente por sua contribuição decisiva na erradicação e controle de doenças infecciosas no Brasil, incluindo poliomielite e rubéola congênita. A incorporação das vacinas contra a COVID-19 para crianças seguiu os rigorosos critérios técnicos e científicos do PNI, com avaliações de segurança e eficácia conduzidas por estudos clínicos e análises da Anvisa e da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunizações.

Após a recomendação da CTAI em julho de 2023, mais de seis milhões de doses foram administradas a crianças entre seis meses e menos de cinco anos até novembro de 2023, demonstrando a efetividade e segurança da vacinação neste grupo etário. A vacinação resultou na redução significativa de casos graves e óbitos por SRAG e SIM-P, corroborando a importância da continuidade do PNI e da vacinação como ferramentas essenciais no combate à pandemia.

Quem ganha quando se promove uma visão de mundo dada através das lentes do medo e da incerteza? E de quem é esta responsabilidade? Será que cada brasileiro ou brasileira não tem também responsabilidade a este respeito? Um filósofo chamado Joshua Herschel falava sobre as responsabilidades de uma sociedade: “alguns são culpados, mas todos são responsáveis.”

É preocupante perceber que o negacionismo, impulsionado pelo medo, pode ter consequências graves na sociedade. Além disso, é fundamental reconhecer que o negacionismo muitas vezes é utilizado por interesses políticos ou econômicos, alimentando polarizações e divisões sociais. Isso resulta em uma sociedade cada vez mais fragmentada, em que a busca pelo bem comum e pela saúde global é obstruída.

Já é passada a hora superarmos as polarizações políticas e encontrarmos um caminho que promova a saúde global e a vida. É preciso promover um ambiente em que o medo seja compreendido e gerenciado de maneira saudável, e em que o negacionismo seja confrontado com fatos, evidências e diálogo construtivo.

A união de esforços entre governos, instituições, especialistas e a sociedade como um todo é fundamental para combatermos, superarmos sentimentos irracionais e construirmos um futuro baseado na confiança, na ciência e no bem-estar coletivo. Somente assim poderemos enfrentar os desafios globais e criar um mundo mais seguro, saudável e sustentável para todos.

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