A pesquisa AtlasIntel em parceria com a CNN Brasil que levantou as intenções de voto na disputa pela Prefeitura de São Paulo (veja aqui) oferece uma vistosa pista acerca de como está a cabeça do eleitorado brasileiro, inclusive o de Fortaleza. Trocando em miúdos: as cabeças se mantêm polarizadas. Lula X Bolsonaro.
Sim, é um recorte paulistano. Mas não duvidem: o que acontece na maior cidade do País costuma se reproduzir no resto do Brasil, mesmo que em diferentes graus e de acordo com as circunstâncias políticas de cada grande cidade.
Podemos trazer essa realidade polarizada para Fortaleza? Em parte, claro que sim. Atentem para os resultados da terceira e quarta posição de São Paulo. Estão lá os deputados federais Tábata Amaral, pelo PSB, e Kin Cataguiri, pelo União Brasil.
A grosso modo, o que são Tábata e Kim se não variações do samba de duas notas só que marca a política brasileira? Afinal, são vertentes à esquerda e à direita, não é?
O fato é que, a essa altura do campeonato, está óbvia a polarização com um empate técnico entre o lulista Guilherme Boulos e o bolsonarista Ricardo Nunes. A polarização é um quadro imutável até o dia da eleição? Pode-se dizer que a tendência é que assim permaneça, sempre observando as características locais nas quais está se dando o embate.
Andrei Romain, CEO da Atlas, cienstista político diplomado em Harvard e profundo conhecedor da política brasileira, faz a seguinte leitura dos resultados da pesquisa: “A disputa de 1º turno em São Paulo se transformou em uma espécie de primária interna da esquerda e da direita. Boulos e Tabata disputam os votos do Lula; Nunes, Kim e Maria Helena disputam os votos do Bolsonaro”.
Para arrematar, Andrei Romain bate o martelo: “Efeito da polarização: os candidatos da direita e da esquerda ‘dura’ lideram”.
No âmbito da esquerda e da direita dura visualizem os candidatos cuja imagem e trajetória mais recentes são imediatamente identificadas pelo eleitorado como lulista ou bolsonarista. Ou anti-lula em contraponto ao anti-Bolsonaro. Como queiram, afinal trata-se de polarização que também se caracteriza pela negação do oposto.
Voltando para Fortaleza, como essa realidade paulistana pode se concretizar? Há sim alguma semelhança entre os dois cenários. Há o lulismo, há o bolsonarismo. E há José Sarto, que, a priori, não vai querer nem uma coisa e nem a outra. Pelo menos no primeiro turno.
A candidatura de Evandro Leitão transita pela via da centro-esquerda, mas é PT. Vai carregar a estrela no peito. Então, será identificada como a representação do lulo-petismo na diputa. Já o bolsonarismo tem uma candidatura oficial (André Fernandes, do PL) e outras duas que circunstancialmente selam o cavalo pró-Bolsonaro (Capitão Wagner, do União Brasil e Eduardo Girão, do Novo).
E como fica o prefeito José Sarto, do PDT, nesse cenário político, em parte, delneado pelo efeito polarizador? Bom, tudo leva a crer que Sarto vai tentar se equilibrar entre os dois lados para chegar ao segundo turno e lá conseguir o apoio de um ou de outro (lulismo ou bolsonarimos) que ficar pelo caminho. A lembrar: Sarto é do PDT, partido da base e Lula, mas é cirista. É só uma pimenta a mais nesse angu.
Fato: a polarização em Fortaleza se dá também, mas de forma diferente da de São Paulo. Vejam bem o que se deu na disputa para governador, primeiro turno de 2022. Identificado com o bolsonarismo mesmo sem casar com o dito cujo, Capitão Wagner obteve 41,51% dos votos na Capital. Já Elmano de Freitas, a representação de Lula na disputa local, ficou com 37,62%.
Percebem? Deu-se a mais pura polarização que levou a candidatura do ex-prefeito Roberto Cláudio (20,67%) para a mortal areia movediça. Ou seja, há risco de Sarto afundar na proporção em que o fator polarização influencie os rumos do distinto eleitorado de Fortaleza.
Claro, trata-se agora de uma eleição municipal, páreo com carcterísticas próprias e realidades epecíficas. Mesmo assim, creiam, a polarização vai influenciar no posicionamnto de uma imensa fatia do eleitorado da Capital.
Atentem para outro eloquente ponto levantado po Andrei Romain a partir da pesquisa Atlas/CNN: “Tabata tem mais votos que o Kim porque ela recebe 25% dos votos do Lula em 2022. Kim, em contrapartida tem apenas 14% dos votos do Bolsonaro. Os dois performam bem entre jovens e eleitores que anularam o voto na eleição presidencial”.
Ou seja, o voto anti-polarização está, em parte, vitaminando as trajetórias eleitorais dos dois candidatos que menos se identificam com Lula ou Bolsonaro mesmo que a deputada seja carimbada como de esquerda e o deputado como de direita. No fim das contas, é mais um efeito da polarização na qual tudo parece orbitar.