No Focus Colloquium, Guimarães fala de ensinamentos transmitidos a Evandro, da polarização e do que aprendeu com a ex-prefeita Maria Luiza 

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José Guimarães no Focus Colloquium. Foto: Focus.Jor

O líder do Governo Lula na Câmara, José Guimarães (PT), cujo primeiro marco de sua trajetória foi o engajamento integral no Comitê Brasileiro pela Anistia no Ceará, dedicou sua jornada inteiramente à democracia.

Considerando esse tema central na política brasileira, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores em 1985.

Com quase 40 anos de filiação ao mesmo partido, acumula reflexões profundas: Há arrependimentos, alianças bem-sucedidas e outras nem tanto, além de ensinamentos que transmite aos seus pupilos, como Evandro Leitão, pré-candidato por Fortaleza em 2024.

Além disso, Guimarães relembra com ênfase o que aprendeu com a vitória de Maria Luiza Fontenele na disputa pela prefeitura de Fortaleza pelo PT em 1985 e com o fim temporário da aliança entre os dois.

Em uma entrevista detalhada no Focus Colloquium, o cearense se mostra paciente, mas esperançoso com o que está por vir. Reconhece que as situações frequentemente pioram antes de melhorar e assegura estar tomando as medidas necessárias para ajustar tudo rapidamente.

Confira os melhores momentos da entrevista:

Vitória de Maria Luiza 

“Naquela campanha, percebemos que estávamos vivendo uma disputa entre duas visões: a mais radical e a da comunicação, da leveza e do diálogo de nossa candidata. Ela irradiava alegria, amor, acolhimento; isso foi crucial para nossa campanha. Foi um momento muito intenso. Mas admito que, na minha trajetória política, enfrentei diversos choques de realidade e tomei decisões muito sérias. Infelizmente assinei a sua expulsão em 1987. Passei três noites sem dormir. Reconheço que, sem ela, eu não seria quem sou hoje; quero fazer esse reconhecimento público. Ainda mantenho contato com ela. A morte de Rosa também me afetou profundamente… E é importante frisar: não faço política com ódio, com agressividade. Faço política através do diálogo. Todos sabem que sou do PT, mas também sabem que sou um militante que valoriza o diálogo. É essencial conversar, sem ódio por ninguém. Essas pessoas foram fundamentais na minha vida. Sinto muito a perda de Rosa.”

Alianças 

“Vou dar um exemplo prático: um deputado de esquerda pode falar o que quiser com respeito. Mas eu sou líder. E isso é um drama no PT, por quê? Eu tenho que me relacionar com vários nomes, inclusive com o líder do PL. E há uma figura que é bastante emblemática e com a qual preciso me relacionar, que é o Arthur Lira. Figura polêmica que a base do PT não entende, quando vem uma pauta como essa do aborto, que eu tenho que ficar nos bastidores mostrando o que deveria e não deveria ser feito. Mas eu, como líder do Governo, não me manifestei publicamente. Eu atuei nos bastidores. Isso é o fio da navalha da convivência que precisa estar lá dentro. E eu estava certo: quem insistiu nessa matéria se deu mal. Comecei a perceber que o Brasil consolidou a democracia. Por isso, eu digo: não mexam com a população. Viram a revolta das mulheres? Elas se manifestaram e deram esse banho de mobilização contra esse PL absurdo.”

“Briga de Galo”

“Aquela foto de Lula com FHC me emocionou. Me deixou mesmo muito feliz. Eles dois passaram por muitas coisas e Lula foi lá, visitou seu antigo concorrente para saber como ele estava. Eles nunca se trataram como inimigos, apenas como adversários. Isso me deixa muito feliz. FHC fez, por exemplo, uma transição muito bonita e democrática quando perdeu para o Lula em 2002. Isso deveria ser exemplo, diferentemente do que ocorreu na última eleição. A polarização faz um mal muito grande. Tem alguns nomes, inclusive, que não respeitam mais ninguém. Virou um espetáculo isso de se xingar. Por isso estamos tomando algumas decisões para ver se melhora o nível lá dentro. Eu ouvi alguns adjetivos que, sinceramente, me deixaram triste. O Plenário foi presidido por muita gente que, independentemente de ideologia, prezava o respeito e o debate. Ninguém debate mais no Brasil. Hoje é tudo na base da desqualificação. O cara sobe, esculhamba o outro e não acontece nada como se estivesse em uma briga de galo.”

Fortaleza

“Precisamos debater os candidatos, precisamos falar da última gestão e o que poderá acontecer no futuro. Ninguém manda em Fortaleza e quem quis mandar se deu mal. Precisamos discutir essa cidade com sabedoria. Digo isso para o nosso candidato, Evandro Leitão. Ele tem que ter juízo, justamente porque estou vendo muita coisa triste em Fortaleza. Veja a nossa administração na prefeitura com a Luizianne, por exemplo, sendo totalmente do diálogo, nos dois mandatos. O vale tudo, a briga política, a polarização não pode se estabelecer por aqui. Precisamos definir o futuro da cidade, não brigar. Precisamos tirar o jovem da violência, melhorar a educação, enfim, é preciso repensar tudo. Temos que criticar, mas sem brigas ou ódio.”

Assista novamente ao Focus Colloquium:

“Pode criticar, mas sem ódio”, expõe Guimarães sobre orientações dadas ao Evandro na pré-campanha

“Briga de galo”, diz Guimarães sobre a polarização que ocorre na Câmara

Guimarães fala de alianças e de relacionamento com Arthur Lira: “Figura emblemática”

Guimarães lembra campanha de Maria Luíza em Fortaleza e lamenta sua expulsão: “Sem ela, não seria quem eu sou”

A arte da política: do Encantado ao Congresso

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