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Triste fim dos esquecidos pela Internet; Por Paulo Elpídio de Menezes Neto

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 Vem da década de 80 desses anos 900 o fortalecimento da percepção da nova projeção da “opinião pública” como manifestação política sobre a autoridade do Estado. Já pelos anos 90, parecia visível que um cenário novo se delineava, a participação dos cidadãos e das cidadãs em um novo quadro de visibilidade quanto a uma forma de participação direta nas decisões coletivas.

Espaço ocupado até então pela mídia “tradicional”, abriu- se, sem que nos déssemos conta a “revolução” em processo, sob os nossos olhos desatentos, que ocorria pela Internet.

Novos e insinuantes canais pelos quais começavam a circular a opinião “livre” passaram a exercer influência inesperada sobre os cidadãos, as pessoas, os indivíduos e os centros de decisão do governo do Estado.

Os “caminhos”, até então ocupados pela mídia impressa e radiofônica, foram alargados na projeção da imagem viva das telinhas da tevê. O texto impresso, o som e a imagem livraram-se do monopólio e controle das grandes empresas de comunicação, caíram em domínio público — sob uma forma “social”, rapidamente convertida em uma forma “politica” de irrecusável alcance como prática “democrática”.

Nos anos 90, tendências que a muitos enchiam de graves suspeitas e receios, a Internet transformou-se em uma grande via pavimentada  de circulação de informações relevantes e de uma opinião compartilhada pelos espaços renovados  da sociedade política, com alguma interação entre “emissores e receptores”, para não deixarmos Barthes longe da nossa atenção.

A reação logo esboçada, transitou valida da cobertura de argumentos preciosos, a apontar os riscos de uma democracia direta, a que alguns chamavam com ironia “democracia eletrônica”, “e-government” ou “cyber-democratie”…

Incluo-me entre os defensores deste “cyber-espaço”, ampla e plural praça de Agora, e nele enxergo, com simpatia confessada, os instrumentos para ampliação significativa do poder de influência e de supervisão sobre a autoridade e o exercício das suas competências. Porém, não me faço de desentendido sobre os riscos que essa abertura oferece.

Na medida em que os cidadãos fizeram desses “corredores livres” a sua voz e a força das suas cobranças, vigília patriótica e cívica que não podemos esconder, a arregimentação de partidos e de movimentos sociais, sindicatos e do governo, em suas reduções múltiplas (parlamento e assembleias, tribunais, órgãos públicos) produziram a manipulação intencional das “narrativas” expostas pelos agentes do Estado. Sem falar, naturalmente, dos “hackers”, exército de mercenários a soldo, de contribuintes privados ou de políticos, senhores das gavetas, dos cofres e dos escaninhos do governo.

Não se há de negar o caráter mobilizador das redes sociais, dos aplicativos de amplo uso e a sua indomável capacidade de processamento da opinião pública, tomada como expressão ampla, e pela natureza ilimitada dos canais pelos quais a sociedade encaminha e sistematiza o seu poder de influência sobre os atos e decisões do governo.

É evidente que o ativismo político e ideológico encontrou formas seguras para fazer trafegar pela amplitude desses espaços sociais e políticos os seus recursos de dissimulada manipulação sobre a extensão e do alcance das “cyber-opiniões”….

É disso que deveríamos falar aqui, por esta   altura dos torneios em que entramos sobre o tema, tão desconcertante quanto incômodo.

O Estado foi, em seus múltiplos desdobramentos, desde os primeiros jornais, quando do nascimento da democracia moderna, o usuário maior da propaganda impressa e do uso que dela fez a serviço dos seus cometimentos. O rádio e a tevê vieram por acréscimo, com a força totalizante e totalitária das novas tecnologias da informação e da comunicação — e mostraram do que são capazes.

Nada mais verdadeiro e real do que a associação da mídia a um “quarto poder”, no âmbito da sociedade política. Não que essa redução lógica pareça de todo inquestionável. Mais assemelha-se, vamos combinar, a uma hipérbole pela qual os seus desvios são retirados da nossa vista. Todavia, não há a questionar que este não foi o traço dominante da sua vocação “democrática”.

Retomando a imagem metafórica da “democracia eletrônica”: os espaços da “e-democracia” têm serventia provisória nas nossas democracias, republicanas na sua maioria. Louvável e intocável, exemplar canal de comunicação, quando serve aos propósitos dos agentes do Estado. Intolerável mostra dos caprichos do demônio e do terrorismo, quando questiona os dogmas de razão ou ferem os interesses dos governantes.

Descoberta a sua utilidade política como via de percurso das eructações e dos refluxos dos atores públicos, os aplicativos e as redes sociais preenchem, hoje, parte significativa da atividade do governo.

Funcionários da incomensurável máquina de digressões administrativas do Estado, a militância dos movimentos sociais, a alta e a baixa magistratura, parlamentares e empresários buscam ampliar a sua “exposição política” para além das obrigações das quais devem notícias aos réus e aos solertes imputados de culpa presumida.

Entre embargos e sentenças graves e as pequenas causas, juízes e ministros usam essa franquia republicana para mostrar a sua gentil fisionomia cidadã. Quão democratas podem ser e competentes nos seus despachos e arrazoados de justiça.

Apesar de condenada pelos “campos dominantes” do governo e malgrado a sua face facciosa e, certamente, falaciosa, a Internet transformou -se em um desvio de trilhos por onde corre a versão bem alinhada dos “hackers” a serviço de ideologias bem servidas de haveres.

Antes, eram as crônicas sociais — Ibrahim Sued, Gilberto Amaral, Jacinto de Thormes… —  autoridades e políticos, mulheres lindas e os seus maridos não sobreviveriam um dia sem estar entre os citados habituais do colunismo, “locomotivas” a todo vapor.

Hoje, são os políticos e agentes do governo, pastores e antístites de nomeada, juízes e os mais reverenciados magistrados. Não sobreviveriam sem uma citação sobre as suas notórias realizações. Morreriam à míngua no silêncio dos “hackers” e dos mercenários da verdade… Como outrora os “soçaites” perdiam-se na solidão do anonimato e do esquecimento dos cronistas dos feitos e fastos da sociedade brasileira.

Paulo Elpídio de Menezes Neto é articulista do Focus, cientista político, membro da Academia Brasileira de Educação (Rio de Janeiro), ex-reitor da UFC, ex-secretário nacional da Educação superior do MEC, ex-secretário de Educação do Ceará.

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