Por Paulo Elpídio de Menezes Neto
Articulista do Focus
Fui parcimonioso nas minhas ambições e na vaidade para passar-me por geômetra e vencer as resistências de Platão, às portas de respeitáveis sodalícios. Mostrei-me comedido diante dessas coletividades de talento, reconhecido e grato.
Paradoxalmente, e feliz pelas descobertas prematuras, vivi, desde muito jovem, entre estas admiráveis criaturas, protegido por fortes laços familiares e por certas afinidades eletivas de que, aliás, muito me orgulho.
Pelos caprichos do Destino, a que não me opus por cordata cumplicidade, cheguei a pertencer a algumas delas, duas na França, por onde granjeei, aliás, as únicas medalhas que ostentei ao peito (as Palmas Acadêmicas e a Ordem Nacional do Mérito, da França) e a três respeitáveis instituições nacionais. De homenagens, devo confessar, poucas recolhi — do tipo Honoris causa, cidadania nomeada, etc. — deixei-as por receber, esquecidas, uma no interior do Maranhão, outra, nas Minas Gerais. Confesso, entretanto, que guardo esse remorço.
Percebi, entretanto, em dado momento, com reconhecida gratidão, chegada a hora de abrir espaços para novas plêiades carecidas de oportunidades. Fiz da minha parte o que pude.
Expliquei-me em um livro a que dei o título revelador de “A Pedra de Sísifo” porque não me dispunha mais a buscar guarida em outros sodalícios.
Tive que me justificar, seguidas vezes, por esta espontânea manifestação de renúncia. Não são poucos, aliás, os da minha geração e algumas vocações intelectuais florescentes, que pertencem a várias dessas ordenações, numerosas entre nós.
Resisti aos apelos da vaidade por uma razão incontestável. Pela carência de prazo, digo-lhes agora, pela falta de garantia de longevidade ou pelo valor que passamos a dar aos nossos próprios limites. Não que tenha desertado das ambições, conquanto justificáveis na minha idade, em pessoas da minha índole.
Aconselhava Umberto Eco em suas desobrigas epistemológicas e afligido pelos seus exercícios de semiologia que, quando nos mostrarmos cansados dos livros que temos e atormentados pelos espaço que eles ocupam, na estante e na fazenda familiar, resta-nos uma solução — ao invés de comprá-los, escrevê-los. Comigo, não pude evitar os impulsos para, nos degraus da senectude, comprá-los e escrevê-los, pretensiosamente, indiferente ao que os leitores eventuais pudessem pensar…
O Chanceler da Alemanha, Konrad Adenauer, beirando os noventa anos, indagou ao netinho que trazia ao colo:
“O que você quer ser quando for grande?”. Não teve que esperar pela resposta:
“Chanceler da Alemanha, meu avô”.
“Meu caro neto, este cargo é do seu avô”, responde-lhe o velho Adenauer com os olhos perdidos, distantes, postos nos cantos da memória.