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Entre acertos e tropeços, ‘Armadilha’ deposita a fé em um inimigo do estado para entender a dicotomia do showbiz

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Foto: Reprodução/WB

No auge de sua trajetória, ao lançar “O Sexto Sentido“, “Sinais” e “A Vila“, o diretor M. Night Shyamalan foi celebrado por cinéfilos de todo mundo como ‘o mestre do suspense’, um título que outrora pertenceu ao gênio indomável Alfred Hitchcock.

Consequentemente, Shyamalan atraiu o interesse de várias estrelas de Hollywood que sonhavam em protagonizar seus filmes, um mérito significativo para alguém que se tornou um dos rostos proeminentes do mercado cinematográfico contemporâneo sem ser norte-americano. Shya é indiano. 

Após duas décadas de declínios, o diretor, que mantém uma base fiel de fãs, especialmente no Brasil, continua em sua busca para recuperar o status de um dos grandes nomes do cinema. É nesse contexto que surge “Armadilha“, filme de 2024 que narra a história de um pai levando sua filha para assistir à apresentação de sua artista pop favorita.

Em um enorme estádio com 30 mil pessoas, o homem descobre que tudo não passa de uma cilada planejada pelo FBI para capturá-lo, dado que é um serial killer conhecido como “O Açougueiro”. Na ocasião, o diretor cria um jogo de gato e rato, onde o protagonista, ao mesmo tempo vilão e pai, tenta entreter a filha enquanto busca escapar de um local com todas as saídas bloqueadas.

No início, o humor é predominante, fazendo com que o público se sinta otimista em relação ao personagem, mesmo tendo conhecimento do pânico que causou na Filadélfia, cidade onde se passa o filme. Através disso, se o cineasta aspirava um dia a ser considerado o Hitchcock da sua geração, “Armadilha” renova essa aproximação ao seguir uma lógica de tensão e perseguição, quase como se estivéssemos assistindo “Festim Diabólico“, de 1948. Nesse aspecto, Shyamalan explora com prazer os problemas que cria para si e para o protagonista.

Essa satisfação em dificultar a vida do serial killer é evidente. Cada close-up diante da encruzilhada abre uma cartilha de possibilidades não apenas para o personagem, mas para quem o assiste também. Nesse sentido, a câmera escolhe caminhos com movimentos que emulam o olhar subjetivo do assassino em busca de uma saída. O diretor, em vista disso, nos lembra a essência do cinema, quando pensamos como os personagens que nos mostram o que querem fazer. Há uma elegância muito maior em interpretar o que eles desejam, não o que eles dizem.

Foto: Reprodução/WB

Mais que isso: com muita comédia involuntária e situações de risco que mantêm o público preocupado, o diretor utiliza sabiamente a oportunidade para criticar a paixão exacerbada por artistas e os extremos a que chegamos por eles.

Desde a fila interminável para ver a cantora sair do camarim até a disputa por um bom lugar e a obsessão por registrar tudo, Shyamalan exemplifica (com um toque de clichê) a sociedade do espetáculo, que pouco reflete sobre o que consome. É ridículo, mas engraçado, como o roteiro mostra que as fãs e suas famílias fazem pouco caso, mesmo com vários homens sendo revistados na plateia, que há um psicopata assassino entre eles. O que importa é o show; nada mais é relevante.

Para além dessas camadas, Shyamalan também explora as possibilidades de redenção espiritual do protagonista e a simpatia que o público pode ter por ele (algo legítimo), mas também destaca o mundo pop, onde tudo gira em torno do lucro, como um movimento muito mais profundo do que imaginamos. 

A artista pop, na segunda metade da projeção, por exemplo, assume esse papel ao tentar salvar não apenas uma, mas várias pessoas do maníaco que a polícia tenta capturar. A virada do texto, que pode desapontar os espectadores acostumados a roteiros padronizados, é, de fato, uma reviravolta surpreendente e que ganha contornos a cada nova sequência. Pode até ser inacreditável a quantidade de conveniências, mas é admirável a coragem do diretor que nunca deixa de aumentar a régua da próxima maluquice. Em resumo, “Armadilha” não cansa de empolgar.

Shyamalan não recorre a soluções previsíveis. Sua virada de roteiro é uma mudança brusca que pode não fazer sentido imediato para todos, mas complementa o que foi apresentado anteriormente. É uma brincadeira, e o público se vê incapaz de acompanhar completamente as peripécias do diretor, assim como as do vilão, mostrando, por fim, que “Armadilha” é filme de gente grande.

Confira um pouco mais sobre o filme no Cine Amora.

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