A política cearense vive um de seus momentos mais instigantes. O PDT, formalmente, pode até declarar apoio a Evandro Leitão (PT) no segundo turno das eleições para a Prefeitura de Fortaleza. No entanto, a peça-chave desta história, o ex-prefeito Roberto Cláudio, parece inclinado a dar as costas a esse apoio. Nos bastidores, tudo indica que ele já se decidiu: não haverá engajamento em uma batalha contra André Fernandes (PL).
Todas as pesquisas deram a sentença: RC se mantém como um personagem de referência em Fortaleza. Sua influência é praticamente similar na Capital à de Camilo Santana. No PDT, é o cabo eleitoral que importa. Entre os derrotados no primeiro turno, é o apoio que Evandro Leitão precisa.
A recusa a Tasso
Pelo menso duas fontes ouvidas pelo Focus Poder indicam que o ex-governador Tasso Jereissati (PSDB), uma figura histórica e respeitada, mas sem poder de voto em Fortaleza, fez um esforço pessoal para levar Roberto Cláudio para o campo de Evandro. Era uma tentativa de unificar as forças que, em outros tempos, se enfrentaram em nome de um projeto político comum. A resposta de Roberto Cláudio, no entanto, foi clara e cortante: “não. De jeito nenhum” ou algo similar.
Esse “não” não foi apenas uma rejeição ao convite de Tasso, que apoiou Sarto no primeiro turno. Foi um recado para a esquerda e, por que não dizer, ao próprio PDT.
Em um cenário de disputa contra um candidato da direita bolsonarista, a ausência de apoio do ex-prefeito soa quase como uma “vingança”. Já Tasso, só tem a lamentar. Muito embora, também movido pelo fígado, esse péssimo conselheiro, Tasso tenha, em passado recente, se bandeado para a direita no conflito local e pessoal contra os Ferreira Gomes (RC se incluia nesse rol), a luta do mais importante governador da História do Ceará foi, nos últimos anos, dedicada a combater o tipo de direita que se instalou no Brasil a partir de 2018.
As feridas das derrotas recentes
Roberto Cláudio até que tem razões para estar amargurado. Após um longo histórico de aliança e proximidade com figuras centrais do cenário político cearense, os últimos anos trouxeram apenas derrotas e rupturas. Em 2022, enfrentou um revés doloroso ao perder para Elmano de Freitas na disputa pelo governo do estado. Agora, em 2024, seu grupo não conseguiu evitar a queda de José Sarto, atual prefeito de Fortaleza e outro importante nome do PDT, deixando o partido em frangalhos na Capital e, atentem, também no Interior, tornando o partido uma sigla insignificante no Estado.
Essas duas derrotas consecutivas foram mais que meros tropeços eleitorais. Elas escancararam as fissuras que há tempos se formavam nas fileiras pedetistas e que, ao que tudo indica, se tornaram intransponíveis. Aliados de longa data tornaram-se rivais. O que antes era um bloco sólido, agora se parece mais com um mosaico fragmentado.
A vingança, o fígado e o cálculo
E agora? A análise política aqui é inevitável. Ao recusar apoiar Evandro, Roberto Cláudio não só nega à esquerda um apoio valioso, mas também envia um recado: ele não está disposto a sacrificar suas dores recentes em nome de uma aliança que, em seu entender, já foi traída por outros.
É o que dizem as más e boas línguas: “uma vingança movida pelo fígado”, segundo um antigo amigo do ex-prefeito. No entanto, vingança e política costumam ser companheiras desaconselháveis. Roberto Cláudio sabe que mantiver essa posição pode custar-lhe caro a longo prazo, mas, no curto prazo, permite-lhe preservar sua autonomia e sua base de apoio. O fato é que a encruzilhada em que RC se meteu é sinistra.
A tática de sobrevivência
No fim, este “não” rotundo talvez seja mais que um impulso de ressentimento. Pode ser um cálculo frio de sobrevivência política. Ao se afastar de uma aliança formal com Evandro, Roberto Cláudio se descola de uma campanha que, mesmo com um eventual sucesso, dificilmente lhe traria dividendos imediatos. Assim, ele se reserva para um momento em que, ao menos ele espera, sua figura possa emergir mais uma vez com força renovada. 2026 vem aí e a política é dinâmica, mas também é cruel contra os que agem aconselhados pela emoção e não base na racionalidade política.
O que se sabe, afinal, é que no jogo político, as alianças são sempre temporárias e as lealdades, muitas vezes, um bem escasso. Se o caminho escolhido por Roberto Cláudio irá consolidar ou prejudicar seu futuro político, só o tempo dirá. Por ora, ele parece mais confortável em não oferecer à esquerda e aos seus velhos companheiros o que, no seu entendimento, foi negado a ele próprio: um apoio sincero e incondicional.
Em sua cabeça, talvez esteja a ideia de que a terra arrasada lhe servirá mais adiante.
PS. Logo após publicação do etxto acima, o ex-deputado Artur Bruno, hoje assessor de Elmano de Freitas, entrou em contato para dizer o seguinte: “Na política não há amigos, e sim aliados. E não deve ter inimigos, e sim adversários. Roberto, se continuar assim, perderá o cacife político conseguido por muito esforço. Ninguém deve fazer política movido pelo fígado”.