Sim, Evandro Leitão (PT) contou com um inestimável e inesperado “apoio” para alcançar a mais apertada vitória da história de Fortaleza. O vereador desastrado, que havia feito a rachadinha familiar com André Fernandes, foi a Carla Zambelli da vez.
Diferentemente da deputada federal que, em 2022, com arma em punho, correu atrás de um cidadão e atrapalhou a reeleição de Jair Bolsonaro, o inspetor, um policial civil de origem, nem sequer precisou sacar uma arma e nem ser flagrado por câmeras alheias.
Na reta de chegada das eleições, lançou ele mesmo nas redes dois lastimáveis vídeos (aqui e aqui) que muito provavelmente expressaram o real modo de ver o mundo do vereador Inspetor Alberto. As deploráveis imagens e falas causaram comoção e reviraram estômagos aqui e muito além. Se reviraram estômagos foram capazes de virar votos. E todo voto era uma pedra preciosa.
Fatal: diante das atrocidades verbais e visuais, André Fernandes não reprovou o aliado. Não o desautorizou. Pelo contrário, fez uma fala que, ao fim das contas, passava pano no comportamento do fiel aliado que havia empregado toda a sua família às custas do butim público da Câmara dos Vereadores.
É como se os vídeos do tal Inspetor, bruscamente, tivessem arrancado do rosto do candidato André Fernandes a impecável máscara de sujeito afável, cordato e ponderado com a qual se mostrou durante toda a campanha.
Uma fatia do eleitorado, para bem explicar, certamente acolheu uma frase clássica da Bíblia, o livro histórico tão em moda na política: “Diga-me com quem andas e eu te direi quem és”.
Classe média
Duas zonas marcadamente de classe média fizeram a diferença a favor de Evandro Leitão. Em especial, a 113ª Zona: Amadeo Furtado, Benfica, Bom Futuro, Damas, Farias Brito, Gentilândia, Jardim América, Montese, Parque Araxá, Parquelândia, Parreão e Rodolfo Teófilo. Todos bairros centrais, dotados de serviços, comércio, escolas, universidades e boa infraestrutura.
Lá, a vitória de Evandro foi de 55,22% a 44,78%. Uma diferença de 8.952 votos. Em nenhuma outra zona, a diferença foi tão favorável a um candidato. Em contrapartida, a vitória de André em mais zonas do que Evandro (10 contra 7) se deram com diferença muito apertada.
Evandro deve muito também à boa votação obtida na 80ª Zona. Lá, a sua frente foi de 53,4% a 46,6%. Aerolândia, Alto da Balança, Estância, Fátima, Joaquim Távora, José Bonifácio, São João do Tauape e Vila União também são bairros considerados de classe média.
Mas, há um terceiro conjunto de bairros, que formam a 82ª Zona (Alagadiço, Carlito Pamplona, Cristo Redentor, Monte Castelo, Pirambu e Vila Ellery) que também determinou a vitória do petista. Lá, o placar foi de 53,92% a 46,08%.
Envelhecimento precoce
Profissionais que mexem com as complexidades do marketing político anteviram como um passo muito ruim de André Fernandes o abraço apertado e devotado em personagens derrotados no primeiro turno. Os mesmos que ele se acostumou a chamar de “velhos políticos”. A turma que manda em Fortaleza “há 30 anos”, como martelou durante toda a campanha.
Ora, pra que servia aquele movimento? O jovem pisou em falso. É próprio da juventude. Aquilo não servia de nada para ele. Muito pelo contrário, tirou-lhe o frescor da novidade. Quem chegou no segundo turno naquele embalo, é erro crasso criar tamanha contradição com a trajetória até ali. Acertado seria aprofundar as diferenças. O “novo” contra o “velho”. Não enfraquecê-las.
Para RC
O destino da política tem sido muito duro com Roberto Cláudio. Que coisa! De garoto prodígio destinado a ser governador do Ceará para uma sucessão de três avassaladoras derrotas que o colocaram no gueto político. Um massacre no espaço de apenas dois anos.
Perdeu para governador em 2022 sem chances de compor uma mesa de negociação no segundo turno, já que Elmano de Freitas levou no primeiro. Ficou isolado. Depois, em 2024, se dedica a ajudar e apadrinhar José Sarto, o prefeito escolhido por Ciro Gomes, até chegar a uma humilhante derrota com apenas 11% dos votos no primeiro turno.
Ainda havia o segundo turno de Fortaleza para se posicionar, não é? Pois bem! Deu no que deu. RC colou em André e os bastidores políticos entenderam que a possível vitória do deputado federal abriria a chance do ex-prefeito ser candidato a governador em 2026 posicionado no campo da centro-direita. Ainda é possível esse caminho ser trilhado, mas a vitória de Evandro tornou tudo mais difícil.
Que inferno astral RC vive na política! Resta-lhe se apegar a uma máxima de Winston Churchil: “A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes”. Ou, mais ameno que o britânico, Ulisses Guimaraes costumava dizer que a política é o único espaço em que é possível morrer e ressuscitar várias vezes.
Único do PT em Capital, Evandro Leitão é eleito prefeito de Fortaleza
Mapa do voto: Evandro ganhou em 7 zonas eleitorais; André, 10
Após derrota, André fala em continuar projetos: “a luta está só começando”