O que aconteceu: Situado no quintal da Reitoria, no emblemático bairro Benfica, a Concha Acústica da Universidade Federal do Ceará (UFC), espaço icônico de cerimônias de formatura e eventos culturais, ganhou um novo nome: “Concha Acústica Bergson Gurjão Farias”. A decisão foi aprovada pelo Conselho Universitário (Consuni) da UFC e anunciada na terça-feira, 5.
Vá mais fundo:
A escolha pelo nome de Bergson Gurjão Farias (foto), ex-aluno de Química do UFC morto durante o regime militar quando pegou em armas no movimento de guerrilha montado pelo PCdoB, na região do Araguaia (entre Pará e Goiás), substitui uma homenagem, hoje considerada “informal”, a Antônio Martins Filho, fundador da universidade. A decisão vem provocando uma série de questionamentos.
Por que agora?
Para muitos, a ausência de um vínculo histórico ou cultural claro com a fundação da universidade ou a edificação da Concha Acústica torna a escolha mais intrigante. Ainda mais quando uma série de revisões históricas gera acalorados debates no âmbito da polarização política.
Homenagem ou ato político?
O gesto parece ter um forte componente político. Bergson Gurjão Farias é visto como um símbolo de resistência à ditadura militar, muito embora o objetivo final da guerrilha não abordasse o fim da ditadura para reinstituir a democracia representativa e com amplas liberdades como conhecemos hoje. As circunstâncias fazem dele o homenageado ideal? Críticos argumentam que a nomeação pode se distanciar das raízes históricas da UFC, sendo percebida como uma decisão movida por razões que ainda não foram suficientemente justificadas.
O legado de Antônio Martins Filho:
Antônio Martins Filho deixou um legado indiscutível como fundador da UFC, além de ter sido responsável pela criação da Universidade Estadual do Ceará e da Universidade Regional do Cariri. Sua trajetória como educador e defensor do ensino superior no Brasil é extremamente reconhecida.
O que está em jogo:
A alteração de questões sensíveis, como memória institucional e história do Ceará, levantando debates sobre o papel da tradição versus novas narrativas. As homenagens podem ser revisadas, mas qual é o peso do passado diante das interpretações contemporâneas?
A fala do reitor Custódio Almeida:
Em converrsa com o Focus Poder, o reitor esclareceu que a Concha Acústica nunca foi formalmente nomeada pelo Consuni. “De acordo com o Memorial da UFC, no final dos anos 1950, houve um movimento de estudantes para homenagear Martins Filho dando o nome dele, mas isso nunca foi adiante, ou seja, nunca foi formalizado.” Segundo Almeida, uma pesquisa feita junto ao Memorial da UFC revelou que não há dispositivos normativos sobre a nomeação da Concha Acústica.
Ele acrescentou que a placa em homenagem a Martins Filho, afixada em 1959, é o que levou o local a ser popularmente associado ao nome do ex-reitor. “Por isso, a Resolução do Conselho Universitário que dá o nome do estudante Bergson Gurjão Farias à Concha Acústica não menciona nenhuma outra normativa que esteja sendo alterada, porque não existe”, explicou.
O reitor ainda lembrou que decisão do mesmo Consuni, há seis anos, mudou a denominação do pequeno auditório refrigerado localizado no prédio da Reitoria de Castelo Branco para Martins Filho.
E agora?
O debate permanece aberto. Afinal, deve-se priorizar o respeito às tradições ou reinterpretar marcos?
Veja o voto que foi aprovado por unanimidade pelo Consuni da UFC