O que está acontecendo
Ceará é um dos estados mais prejudicados pelo travamento da infraestrutura elétrica para novos projetos de energia limpa. Empresas que planejam produzir hidrogênio verde no Brasil enfrentam dificuldades para acessar a infraestrutura elétrica necessária para seus projetos. O entrave principal está na negativa do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) em conceder o Parecer de Acesso, documento essencial para conectar novas cargas ao Sistema Interligado Nacional (SIN). No Ceará, um dos estados mais avançados na atração de investimentos no setor, projetos estratégicos estão travados, colocando bilhões em risco. As informações foram publicadas originalmente pelo Valor.
Por que importa
O Brasil assinou mais de 50 memorandos de entendimento para produção de hidrogênio verde, mas sem acesso à rede elétrica, os empreendimentos seguem no papel. O polo industrial do Porto do Pecém (CE), um dos principais hubs do setor, já enfrenta atrasos que podem comprometer a competitividade do país no mercado global. O interesse para consumir o hidrogênio produzido no Ceará é principalmente da Europa.
O que está em jogo
• Fortescue: A mineradora australiana iniciou a terraplanagem no Pecém e tem licenças ambientais, mas não consegue garantir energia para seu projeto de R$ 20 bilhões.
• Voltalia: A empresa francesa previa iniciar suas operações em 2030, mas já estima atrasos de até dois anos.
• Casa dos Ventos: Com um investimento de R$ 9,5 bilhões em uma planta de eletrólise, a empresa teme que o bloqueio na rede impeça avanços.
O que está travando os projetos
1. Capacidade da rede: O ONS argumenta que o sistema de transmissão no Ceará não suporta o aumento de carga sem comprometer a estabilidade.
2. Postura conservadora: Após o apagão de agosto de 2023, o ONS endureceu os critérios de acesso à rede elétrica.
3. Descasamento de prazos: Os primeiros leilões de transmissão para reforçar a rede só ocorrerão em 2026, e as obras podem demorar até 2032.
4. Possível favorecimento ao Sudeste: Há indícios de que o Ministério da Fazenda prioriza investimentos na infraestrutura elétrica do Sudeste, prejudicando estados do Nordeste como o Ceará. Nesse caso, é fundamental a mobilização da bancada política do Ceará e da Região Nordeste.
O fator político
Lideranças do Nordeste pressionam o governo federal para agilizar novos leilões de transmissão, mas o MME ainda estuda soluções. O atraso no acesso à rede elétrica contrasta com a estratégia do governo de tornar o hidrogênio verde uma das vitrines da COP30, prevista para 2025, no Brasil.
E agora?
Se o impasse não for resolvido, o Brasil pode perder competitividade para países que avançam mais rapidamente na infraestrutura para hidrogênio verde. O setor já lida com a incerteza macroeconômica global e com os altos custos de produção. No Ceará, a expectativa é que o governo Lula tome medidas rápidas para evitar que investimentos bilionários deixem o estado.