Não há governo justo sem uma oposição vigilante. Mas o que vemos em Fortaleza e no Ceará — e, sejamos francos, em boa parte do Brasil — é um conluio silencioso em torno do poder. Oposição virou artigo de museu. O que impera é o desejo unânime de estar junto ao banquete, de sentar à mesa dos privilégios, de beber da fonte inesgotável das benesses estatais. Ideologia? Já não faz sentido algum. Os partidos, em sua maioria, se tornaram meros veículos de interesses — e, quase sempre, interesses pessoais e inconfessáveis.
A política virou uma grande caçada. E onde há caça, há caçadores. Todos querem estar ao lado dos donos da presa. Os contratos milionários, os cargos comissionados, o dinheiro farto e fácil, tudo isso compõe o mapa do tesouro dos que vivem à sombra do Estado, não para servi-lo, mas para se servirem dele.
Não se constrangem. A incoerência, a hipocrisia e a ausência de escrúpulos não apenas são toleradas — são esperadas. Tornaram-se parte do jogo, como se a política fosse apenas um teatro grotesco onde o povo é o figurante mudo e faminto. A árvore da qual todos esses personagens se alimentam é o povo — espoliado, miserável, doente, moribundo. E até sua carcaça é disputada com voracidade.
Esse comportamento político é um fenômeno digno de estudo. Daria matéria para sociólogos, antropólogos, psiquiatras e até para videntes — talvez eles consigam prever quando esse ciclo de perversão terá fim. Mas, apesar do cenário desolador, ainda acredito nas exceções. E elas existem.
Não são tolos. São os que resistem por convicção, e não por conveniência. Os que, mesmo em flagrante desvantagem, se recusam a negociar seus princípios em troca dos dobrões de ouro do poder. Gente rara, mas essencial. São eles que mantêm viva a esperança de que, um dia, a política possa, de fato, ser instrumento de transformação — e não de perpetuação das misérias.
A esses, devemos o alento e a inspiração. Porque teimam em acreditar que a decência ainda tem lugar. Lutam, mesmo sob um céu inclemente, mesmo diante da escassez, mesmo quando tudo parece perdido. São os que não se rendem, e por isso, cedo ou tarde, serão os verdadeiros vencedores. Não apenas porque defendem bons propósitos, mas porque o sistema apodrecido se consumirá por sua própria voracidade. É da natureza da corrupção se devorar.
Enquanto isso, resta-nos escolher de que lado queremos estar: entre os que devoram ou entre os que lutam para fazer florescer, outra vez, a dignidade da vida pública.