Quem irá custear nossos sonhos? Por Francisco de Assis Vasconcelos Arruda

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Sonhar é uma ousadia. Mas realizar um sonho exige muito mais.

Exige coragem para persistir, sabedoria para esperar e, sobretudo, humildade para reconhecer quem nos ajudou a chegar até aqui. Durante um discurso que fiz no Instituto do Ceará, compartilhei uma imagem que carrego comigo desde sempre: o barquinho da vida. Todos nós estamos nesse pequeno barco, navegando no vasto rio da existência. Às vezes, somos levados pela correnteza dos fatos. Outras vezes, remamos contra ela. Mas há algo que não podemos esquecer: ninguém chega ao seu destino sozinho.

Ao longo da jornada, recebemos empurrões invisíveis. Um olhar de incentivo, um gesto de confiança, uma palavra que nos encoraja, uma mão que nos sustenta no momento certo. E muitas vezes, nem percebemos quem nos empurrou. O barquinho da vida pode parecer solitário, mas há correntes silenciosas – como o amor de uma mãe, o apoio de um amigo, a fé de um avô – que nos conduzem ao porto certo.

Minha mãe, com sua sabedoria simples e profunda, costumava dizer: “Quem quiser ser grande, nasça viçoso.” Nunca esqueci. Viçoso não significa rico. Viçoso é quem nasce com vigor de alma, com raízes fortes, com o desejo sincero de crescer mesmo onde não há sombra, nem chuva. Ser viçoso é florescer mesmo na adversidade. É resistir à seca dos caminhos difíceis e mesmo assim levantar-se verde de esperança.

E então vem a grande pergunta: quem irá custear nossos sonhos?

A maioria pensa logo em dinheiro, mas o custo é mais profundo. Um sonho se sustenta com tempo, esforço, disciplina, renúncia. Custa noites de silêncio, dias de solidão, paciência com os resultados que demoram. E às vezes, é outro que paga parte desse preço: uma mãe que abre mão de algo, um irmão que cede espaço, um amigo que acredita mais que nós mesmos. Ninguém sonha totalmente só. O sonho pode ser nosso, mas os alicerces quase sempre são partilhados.

Falo com verdade, porque vivi isso. Minha própria trajetória foi custeada com amor, esforço e fé. Trabalhei, estudei, renunciei. Mas fui impulsionado pela confiança dos que me amavam, pela força silenciosa de minha mãe, pela mão firme do meu pai, pela compreensão de minha esposa, pelo brilho nos olhos dos que viram sentido no que escrevi. Minha missão como genealogista, como escritor da memória de famílias e histórias esquecidas, jamais teria se cumprido sem os que pagaram comigo – em silêncio – o preço do meu sonho.

E se existe um custo alto, ainda mais alto é o custo de não tentar. O custo de enterrar um sonho. O preço da frustração, do “e se”, do vazio que vem de não ter escutado a voz que um dia sussurrou dentro de nós.

Talvez o seu sonho esteja aí, à espera de um empurrão. Ou talvez alguém esteja esperando que você ajude a custear o sonho dele. A vida, misteriosamente, sempre conspira a favor de quem sonha com propósito.

E como dizia minha mãe: “Quem quiser ser grande, nasça viçoso.” Viçoso de fé, de coragem, de humildade. Porque o sonho é uma semente. Mas quem o faz florescer é sempre uma rede invisível de amor, esforço e esperança.

Francisco de Assis Vasconcelos Arruda é Engenheiro Agrônomo, Doutor pela Escuela Técnica Superior de Ingenieros Agrônomos da Universidad Politécnica de Madri, pesquisador da Embrapa por 34 anos, genealogista, membro da Academia Sobralense de Estudos e Letras, da Academia de Letras, Ciências e Ecologia do Leste Maranhense, da Academia Massapeense de Letras e Artes, do Instituto Histórico e Geográfico de Sobral, sócio efetivo do Instituto do Ceará.

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