O setor de gás liquefeito de petróleo (GLP) vive tensão máxima. Focus Poder apurou que a Agência Nacional de Petróleo (ANP) propõe novas regras para o mercado, prometendo mais competição. As empresas reagem: dizem que haverá insegurança jurídica, risco à segurança e freio em investimentos — inclusive da Nacional Gás, cearense com mais de 21% de participação no mercado.
O que muda
A proposta, aprovada em Análise de Impacto Regulatório e em fase de minuta, prevê:
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Envase fracionado de botijões
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Fim da exclusividade do vasilhame pelas marcas
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Liberação para que qualquer empresa possa abastecer e comercializar o gás
A estimativa é que as novas regras entrem em vigor em abril de 2026, sem necessidade de aval presidencial ou do Congresso.
Por que o setor reage
Distribuidoras e revendedores afirmam que as medidas:
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Criam risco de “botijão pirata”
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Fragilizam fiscalização e rastreabilidade
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Abrem brecha para atuação do crime organizado
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Reduzem incentivos ao investimento
Para ampliar o atendimento do programa Gás para Todos, que quer subir de 5,4 milhões para 16,6 milhões de famílias beneficiadas até 2027, seriam necessários R$ 1,5 bi em novos botijões. O setor teme que a incerteza regulatória trave esse aporte.
O tamanho da disputa
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Mercado total: R$ 60 bilhões (R$ 44 bi em distribuição e R$ 16 bi em revenda)
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131,4 milhões de botijões em circulação
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Quatro empresas dominam 89% do mercado: Copa Energia (23,8%), Ultragaz (22,5%), Nacional Gás (21,5%), Supergasbras (21%)
O argumento oficial
A ANP diz que a flexibilização reduz custos, atrai novos players e amplia modelos de negócio. Cita o México como exemplo — mas lá, segundo o BTG Pactual, houve explosão de furtos e pontos de enchimento ilegais.
O que vem aí
As distribuidoras prometem pressionar até o fim, inclusive na Justiça, para rever pontos como o envase fracionado e o fim da exclusividade da marca no botijão.
Para a Nacional Gás, sediada no Ceará, a mudança ameaça não apenas margens e participação de mercado, mas também a lógica operacional de rastreamento e segurança construída ao longo de décadas.
Vender gás no varejo (ou “no retalho”) significa fracionar o gás liquefeito de petróleo (GLP) de um botijão padrão para quantidades menores, atendendo o consumidor final de forma direta e em porções específicas — por exemplo, encher parcialmente um recipiente em vez de fornecer o botijão cheio de 13 kg.
🔹 Como funciona
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O botijão original é aberto e abastece outro recipiente menor ou parcialmente cheio.
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A venda é feita em unidades menores (por quilo ou volume), geralmente para quem não quer ou não pode comprar o botijão inteiro.
🔹 Diferença para o modelo tradicional
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No modelo atual, o botijão já vem lacrado de fábrica ou centro de enchimento autorizado, com volume fixo e padronizado.
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No fracionado, o enchimento pode ser feito fora de grandes plantas industriais, muitas vezes em pontos menores de revenda.
🔹 Riscos e debates
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Segurança: o botijão brasileiro não é projetado para enchimento manual ou fora de instalações industriais, aumentando risco de vazamentos e explosões.
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Rastreabilidade: perde-se o controle sobre quem encheu e em quais condições.
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Mercado informal: facilita a ação de revendas irregulares e até do crime organizado.