
Quando Darwin desembarcou no Brasil, viu a alma nua do país. Chamou esta terra de “decrepitude moral” porque enxergou, sem esforço, que a barbárie não era exceção. Era o funcionamento normal da sociedade. Ele viu um povo acostumado à dor alheia, uma elite indiferente e uma estrutura que só existia graças ao sofrimento de muitos para o conforto de poucos. Darwin se horrorizou. Nós, não.
Quase dois séculos depois, continuamos afogados no mesmo pântano. O Brasil não se modernizou. Apenas sofisticou sua degradação. A escravidão virou método invisível, mascarado, eficiente. As correntes continuam, mas agora são psicológicas, econômicas, territoriais. O país se transformou num narcoestado onde o crime dita leis, controla bairros, determina horários, regula vidas. E o Estado oficial, frágil ou cúmplice, disputa espaço com bandidos que já entenderam que mandar é mais fácil do que governar. Aqui, o poder se mistura com a delinquência até que as fronteiras desaparecem.
O povo perdeu a altivez. A indignação virou peça de museu. A coragem adormeceu em definitivo. Somos uma nação que trocou dignidade por esmola, consciência por migalhas, futuro por dobrões baratos. O silêncio que paira é criminoso. É a assinatura coletiva da covardia. E quando um país se acostuma a abaixar a cabeça, a servidão vira paisagem.
Pior: o Brasil transformou o bandido em ícone. O crime virou mito, estilo de vida, referência cultural. O glamour da delinquência substituiu qualquer noção de mérito, decência ou honra. Ser honesto é quase um ato de resistência. Ser ético é quase um desafio à lógica vigente. A moral e a ética não ruíram hoje. Elas jamais existiram como fundamento sólido. O que temos é um esqueleto institucional tentando sustentar um corpo apodrecido.
O Brasil não é o país do futuro. Nunca foi. O futuro chegou cansado e descobriu que este lugar continua preso à mesma lama colonial, à mesma brutalidade, à mesma estupidez. Darwin se espantou porque tinha olhos limpos. Nós deixamos de nos espantar porque nos tornamos parte da paisagem. E quando a paisagem é a barbárie, não há esperança que resista.
Aqui, o passado não morreu. Ele reina.







