
A ofensiva pública de Michelle Bolsonaro contra a aproximação do PL cearense com Ciro Gomes expôs, mais uma vez, a disputa interna que hoje define o rumo do bolsonarismo. No palco do lançamento da candidatura de Eduardo Girão (Novo) ao governo do Ceará, a ex-primeira-dama rompeu o tom protocolar e enquadrou diretamente André Fernandes, presidente estadual do PL, por ter selado entendimento com um adversário histórico de Jair Bolsonaro. O ocorrido ganhou dimensão no noticiário político nacional.
O que aconteceu
Michelle afirmou que não aceita a aliança com “o homem que é contra o maior líder da direita”, numa referência a Ciro, e cobrou correção de rota. Nos bastidores, a crítica mira também o projeto pessoal de Fernandes: sua articulação para viabilizar a candidatura do próprio pai, Alcides Fernandes, ao Senado, um movimento que irritou parte da ala bolsonarista e já havia sido alvo de recado velado de Michelle dias antes.
Fernandes reagiu rápido. Disse que a aproximação com Ciro foi autorizada pelo próprio Bolsonaro, citando uma ligação em viva-voz feita em 29 de maio, com anuência de Valdemar Costa Neto. Ou seja, para o deputado, a ex-primeira-dama estaria contrariando uma orientação já consolidada pelo chefe da sigla.
Por que importa
Ciro trocou o PDT pelo PSDB e hoje é visto como opção competitiva para enfrentar Elmano de Freitas (PT) em 2026. A oposição no Ceará, ainda fragmentada e sem nomes fortes, tenta construir uma unidade mínima. A divergência entre Michelle e André Fernandes, porém, mostra que a costura ainda está longe de ser pacífica.
O episódio jogou luz também sobre outro ponto sensível: o avanço de Michelle sobre a estratégia eleitoral do PL em diferentes estados. Há semanas, ela tem feito movimentos públicos que, na prática, redesenham alianças regionais e testam sua força interna. Isso incomoda os filhos do ex-presidente, que veem nesse protagonismo uma sombra sobre a liderança natural de Bolsonaro e rejeitam qualquer narrativa que a coloque como possível sucessora.
O detalhe cearense
Diante de uma plateia atenta, Michelle foi tratada como “presidenciável” por Deltan Dallagnol. Ela reagiu com surpresa, mas aceitou o aceno. Em Fortaleza, onde o bolsonarismo tenta manter competitividade mesmo sem uma estrutura estadual sólida, a cena soou simbólica: Michelle subiu ao palco para defender lealdades e, sem querer, ganhou um novo rótulo.
O recado final
A fissura exposta no Ceará é menos sobre Ciro e mais sobre comando. Michelle testa seu espaço, Fernandes defende o acordo que o beneficia, e Bolsonaro, ausente, mas citado por todos, continua sendo a única âncora real capaz de organizar a própria base. Até quando isso segura?
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