
O Focus Poder apurou que o Governo do Ceará começou a montar um movimento silencioso, e ambicioso, para transformar o Spark EUV, primeiro carro elétrico produzido em Horizonte, em peça-chave de uma nova política de mobilidade limpa no Estado.
A estratégia tem duas frentes:
1 estimular as empresas fornecedoras de frotas ao setor público a incluir o Spark em seus catálogos de aluguel;
2 preparar a estrutura administrativa do Governo com pontos de carregamento capazes de sustentar uma migração gradual para veículos elétricos.
É o embrião de um programa que, se avançar, pode reposicionar o Estado como usuário relevante da produção do novo polo automotivo. E, ao mesmo tempo, acionar uma cadeia virtuosa: mais carros alugados, maior demanda para a fábrica, custos reduzidos e, ponto vital, uma frota pública menos poluente.
Por que o Spark interessa ao Governo
O Spark EUV chega com autonomia de 258 km no ciclo PBEV/Inmetro. Não é um carro para longas viagens, mas é perfeito para o uso diário urbano, cobrindo com folga as rotas internas de secretarias, órgãos administrativos, equipes técnicas e serviços distribuídos na Região Metropolitana de Fortaleza.
A equação é simples:
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uso urbano → autonomia suficiente
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menor desgaste → durabilidade maior
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menos engrenagens → manutenção muito mais barata
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sem combustível → impacto decisivo nos custos operacionais
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frota mais limpa → alinhamento com a agenda ambiental e climática
No fim das contas, o carro elétrico reduz despesas e pode baratear os contratos de aluguel, algo que interessa diretamente à administração pública.
A produção do Spark: escala, calendário e ambição
O Spark será o primeiro veículo produzido no novo polo automotivo de Horizonte, instalado na antiga fábrica da Troller. A meta é alcançar 6 mil unidades produzidas em 2026. A operação segue o modelo multimarcas, sob comando da Comexport, que detém os direitos industriais e estrutura a linha de montagem para diferentes montadoras. A empresa já negocia com três marcas consolidadas no Brasil — nomes mantidos em sigilo — e deve anunciar um segundo modelo em março de 2026.
Linha do tempo da produção
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Setembro (2025): anúncio oficial da chegada do Spark
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Novembro a janeiro: operação reduzida, treinamento da mão de obra e ajustes do processo
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Fevereiro (2026): início da produção padrão, com capacidade entre 300 e 400 veículos/mês
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Junho (2026): segundo turno de trabalho, capacidade dobrada
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2026 (ao longo do ano): projeção de 6 mil unidades produzidas
Hoje, o Spark usa peças de três fornecedores estrangeiros e cinco nacionais. O plano é nacionalizar progressivamente componentes, permitindo inclusive uma futura rota de exportação.
O que está por trás do polo automotivo de Horizonte
O polo nasce como uma planta multimarcas, algo raro no Brasil. Nele:
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A Comexport licencia modelos
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Monta as linhas
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Opera a produção
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E entrega veículos finalizados às montadoras
É, na prática, uma terceirização de alto nível, com capacidade inicial de expansão rápida. A planta ocupa 120 mil m², mas deve crescer conforme novos modelos forem incorporados. As estimativas são ousadas: atingir até 80 mil veículos/ano e gerar 9 mil empregos especializados no Ceará. Nesta fase inicial, a empresa reativou toda a estrutura da antiga Troller e prepara o próximo galpão, que entrará em operação na segunda fase do projeto.
Por que este movimento importa
Se o Governo do Ceará se tornar um usuário relevante do Spark, cria:
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um mercado âncora para o polo
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uma vitrine institucional importante para o elétrico
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estímulo para frotistas privados adotarem o modelo
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redução significativa de custos operacionais
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um passo concreto para a agenda de descarbonização
E, sobretudo, sinaliza algo raro: o Estado consumindo tecnologia produzida no próprio Ceará — e ajudando a consolidar uma nova indústria automotiva local.







