A economia eleitoral; Por Paulo Elpídio de Menezes Neto

COMPARTILHE A NOTÍCIA

 

“Ninguém é suficientemente competente para governar outra pessoa sem o seu consentimento.”
Abraham Lincoln

O voto — sua legitimidade e a contabilidade de cada lançamento — sempre foram, no Brasil, uma questão central para o funcionamento da democracia.

Não que as dúvidas que cercam a governabilidade surjam de questionamentos morais, filosóficos ou teológicos. Longe disso. Decorrem, na prática, das contribuições recentes da informática e da segurança da “leitura” dos votos capturados pela urna eletrônica — peça fundamental do mecanismo eleitoral, mas não a única, tampouco a menos importante.

Os votos são, como na biologia, blocos de construção: sustentam a democracia como as proteínas mantêm as células coesas, permitindo o equilíbrio celular… e democrático.

A formação do voto, sua manifestação, a apuração e a contabilidade de sua quantificação compõem uma engenharia complexa. Parte disso, sabemos, é assegurada pela urna eletrônica — razão de sua importância e também de seus mitos. Mas as duas etapas iniciais — a formação e a manifestação do voto — são mais fugidias, difíceis de mensurar e controlar.

A propaganda eleitoral, as pesquisas de opinião, as influências veladas em troca de adesões “espontâneas” e o financiamento partidário mantêm a mesma relevância de outrora — desde o voto “a bico de pena” nos primórdios do Império.

Seria possível falar de uma verdadeira “economia eleitoral”, tal o volume de valores, articulações e operações envolvidos para dar forma a esse ritual cívico.

Os “colégios eleitorais” e os “cabos eleitorais” persistem, atravessando toda a história do voto no Brasil. Nada têm a ver com a urna eletrônica — nosso mais eficaz equipamento de contagem de cabeças votantes — mas são ainda hoje engrenagens de uma mesma máquina.

O Direito Constitucional e a Ciência Política, cada qual com sua armadura teórica, cumprem seu papel na defesa do arcabouço democrático. Emprestam conceitos, preceitos e uma dose de autoridade ao que, em essência, é tão vulnerável quanto indispensável.

Por isso, o voto assumiu na consciência coletiva a condição de “dever” e “direito”, envolto nos contornos imprecisos de uma gesta misteriosa, inseparável da cidadania.

Reza uma anedota do interior do Ceará, nos tempos em que abríamos o peito para a democracia sob a inspiração de Montesquieu, Jefferson e os federalistas da Revolução Francesa: em certo dia festivo de eleição, “cabos eleitorais” distribuíam envelopes lacrados com as cédulas impressas, prontas para serem depositadas na urna. Um eleitor, curioso, resolveu abrir o envelope para conferir os nomes que lhe cabiam.

O mesário, zeloso de suas responsabilidades e prerrogativas, logo bradou:
— “Pois não sabe que o voto é secreto?”

Paulo Elpídio de Menezes Neto é articulista do Focus, cientista político, membro da Academia Brasileira de Educação (Rio de Janeiro), ex-reitor da UFC, ex-secretário nacional da Educação superior do MEC, ex-secretário de Educação do Ceará.

COMPARTILHE A NOTÍCIA

PUBLICIDADE

Confira Também

AtlasIntel: 62% dizem que tarifa de Trump contra o Brasil é injustificada; 41% veem punição por Brics

Barroso responde a Trump com beabá sobre democracia e ditadura

Lula, o “Napoleão brasileiro”, saberá usar o presente político que recebeu de Trump

A crise escalou: Trump envia carta a Lula e impõe tarifa de 50% sobre exportações do Brasil

AtlasIntel: Com Bolsonaro fora, Lula segura a dianteira, Haddad testa força e direita se divide

Pesquisa AtlasIntel: Lula ganha fôlego, Haddad reduz desgaste e confiança política desaba

Morre, aos 97 anos, José Walter Cavalcante, um modernizador de Fortaleza

PSB e Cidadania fecham federação para driblar cláusula de barreira e 2026

União Brasil estressa Lula em Brasília e prepara jogo duro no Ceará

Trump x Musk: ameaça de deportação expõe racha na base conservadora

💸 Fidelidade em queda: só 3 deputados do CE apoiaram Lula no aumento do IOF

🧨 Base racha, centrão avança e Lula sangra em praça pública

MAIS LIDAS DO DIA

Governo reage à taxação dos EUA com articulação entre setores e criação de comitê estratégico

Exportações brasileiras para os EUA caíram pela metade desde 2001

Ciro Gomes caminha para filiação ao PSDB após almoço com cúpula tucana, em Brasília

Quando o sagrado vira espetáculo; Por Walter Pinto Filho

Aprovação internacional impulsiona Lula e melhora avaliação interna, aponta pesquisa

🔍 Genial/Quaest: tarifa de Trump e pauta dos super-ricos ajudam Lula a conter desgaste

Fortaleza terá voos diretos para Foz do Iguaçu e Montevidéu a partir de novembro

📊 Genial/Quaest: tarifa de Trump e super-ricos estancam desgaste de Lula

EUA investigam Pix e acusam Brasil de prejudicar empresas americanas