Por Gabriel Brandão
Post convidado
Enquanto a comunidade internacional acompanha com apreensão os desdobramentos do conflito entre Irã e Israel, o Ceará vive uma guerra silenciosa, mas igualmente destrutiva. Não se trata de confronto entre nações, mas de uma disputa feroz entre facções criminosas que desafiam o Estado, impõem regras paralelas e aterrorizam a população civil.
De acordo com o Ministério da Justiça, no ano de 2024, o Ceará teve a maior taxa de homicídios dolosos do país, enquanto Fortaleza figura no vergonhoso terceiro lugar no Mapa da Segurança Pública, ficando atrás apenas de Rio de Janeiro e Salvador. Em 2020, por exemplo, Caucaia foi a cidade mais violenta do Brasil, com taxa de assassinatos intencionais, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, chegando a 98,6 por 100 mil habitantes, muito acima da média nacional, que foi de 23,6.
Já a ONG mexicana Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal coloca Fortaleza como a 12ª cidade mais violenta do planeta, à frente, inclusive, de Cumaná na Venezuela, Tijuana no México e Pereira na Colômbia.
O crescimento expressivo dessa violência letal está diretamente ligado à disputa entre organizações criminosas pelo controle de territórios e rotas de tráfico. Em diversos bairros da Região Metropolitana de Fortaleza, o domínio de facções é notório, com comunidades inteiras sendo coagidas a obedecer ordens do crime.
Esses grupos criminosos possuem estrutura, armamento e poder financeiro consideráveis. Utilizam tecnologias de comunicação criptografada, contam com armamento de uso restrito e exercem influência até mesmo sobre setores institucionais. A ousadia se revela em ataques coordenados à prédios públicos, execuções à luz do dia e no controle informal sobre o cotidiano de moradores, que vivem sob constante ameaça.
Não se trata mais de criminalidade comum. É uma guerra urbana. A diferença é que ela não estampa as capas dos jornais internacionais nem provoca debates no Conselho de Segurança da ONU. É uma guerra travada dentro de casa, em silêncio, com vítimas invisíveis e territórios perdidos para o medo.
A resposta do Estado precisa ir além da repressão policial. É necessário fortalecer os sistemas de inteligência e investigação, cortar os fluxos financeiros das facções, ampliar a presença estatal em áreas vulneráveis, valorizar a Polícia Militar e investir em políticas públicas efetivas que previnam o recrutamento de jovens pelo crime. Segurança pública exige ação integrada, planejamento estratégico e compromisso político — não apenas operações pontuais.
Não temos aqui Hezbollah e Hamas, é verdade, mas os Guardiões do Estado, Comando Vermelho e PCC cumprem papel semelhante:
desafiam o Estado, dominam territórios, estabelecem regras próprias e impõem medo. São os exércitos clandestinos da nossa guerra interna — uma luta urbana, suja, cruel e cotidiana.
Enquanto o mundo teme a escalada de uma guerra entre potências estrangeiras, o Ceará sangra. E essa guerra, ao contrário da do Oriente Médio, não é uma ameaça: é uma realidade.
