
Um repúdio necessário. Crimes contra adolescentes exigem resposta que não conheça indulgência.
“Eu mato qualquer um, mas não mato uma criança.” A frase do pistoleiro interpretado por Jason Robards em Era uma Vez na América nasce de uma cena fria: o garoto Timmy é abatido sem clemência, e a brutalidade do gesto torna a fala — até para um fora-da-lei — um limite moral intransponível. É uma cena dolorosa mesmo na ficção; na realidade, a dor é infinita quando a bala atravessa o corpo de um filho, de uma filha, de uma criança que brinca na rua.
A morte de uma mãe, de uma filha e de uma adolescente em Juazeiro do Norte, na noite de sexta-feira, 19 de setembro de 2025, assim como o ataque covarde contra adolescentes — uma das vítimas tinha 12 anos — que jogavam futebol na Areninha do Barroso, em Fortaleza, no dia 23 de outubro de 2023, não podem figurar como meras estatísticas. São afrontas à própria humanidade. Ambos os massacres nascem da mesma lógica perversa: a disputa entre facções criminosas que convertem o espaço público em território de guerra.
Tive a responsabilidade de sustentar a acusação no júri da Areninha. Ali, a Justiça respondeu com firmeza: um dos mandantes foi condenado a 39 anos de prisão. Esse resultado não é apenas um número; é a prova de que a resposta penal pode — e deve — ser severa quando a brutalidade atinge os mais indefesos. É também um sinal de que a sociedade não aceitará a naturalização do horror. No caso de Juazeiro, a polícia agiu prontamente e prendeu vários suspeitos.
Repudiar é exigir prevenção eficaz, presença do Estado, policiamento inteligente e investigação célere. É recusar discursos que tentam suavizar a gravidade do crime em nome de teorias fáceis sobre ressocialização, quando o dano é irreparável. Denunciar, também, qualquer violência contra o ser humano praticada pelo deleite de celerados.
Outros massacres ocorreram em nossa cidade, deixando um rastro de sangue e sofrimento. Se, na ficção, a morte de Timmy justifica uma frase que corta a cena como punhal, na vida real o corte é muito mais profundo: funerais, famílias destroçadas, um amanhã amputado.
Por isso, minha convicção pública e moral é direta e incômoda: quem mata uma criança merece pena capital. Não é retórica; é o repúdio absoluto a um ato que destrói a própria possibilidade do porvir. Afirmo também um princípio de humanidade: eu não mataria Adolf Hitler garoto — ele não poderia se defender. A distinção é essencial: a pena capital, se defendida como resposta ao assassinato de indefesos, deve ser juízo sobre o crime cometido, observado estritamente dentro do devido processo legal.
Albert Camus escreveu que “a verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente.” A infância é esse presente por excelência. Quando se atira contra ela, não se mata apenas uma vida; destrói-se também o amanhã comum que a sociedade deveria proteger.
Exijamos justiça pronta e severa, e políticas públicas que impeçam que o horror continue a assombrar praças, esquinas e escolinhas de futebol. Crimes assim não comportam piedade social; devem encontrar, na lei e na consciência coletiva, a resposta que preserve o que ainda nos resta de humanidade.








