A nova justiça com o COVID-19, por Frederico Cortez

COMPARTILHE A NOTÍCIA

Frederico Cortez é advogado, sócio do escritório Cortez & Gonçalves Advogados Associados. Especialista em direito empresarial. Pós-graduando em Direito da Proteção e Uso de Dados pela PUC-Minas Gerais. Co-fundador do Instituto Cearense de Proteção de Dados- ICPD-Protect Data. Consultor e editor de conteúdo jurídico do Focus.jor. Assessor jurídico na Secretaria de Defesa Social no município de Caucaia-Ce. Escreve aos fins de semana. E-mail: advocacia@cortezegoncalves.adv.br. Instagram: @cortezegoncalvesadv

Por Frederico Cortez
cortez@focuspoder.com.br

Isso mesmo! Uma nova justiça está brotando após os efeitos da pandemia do novo coronavírus no Brasil. Para os operadores do direito, está nascendo uma justiça paliativa e condescendente afeita à todas as searas do ramo jurídico. Seja no direito de família, direito empresarial, direito trabalhista, direito tributário, direito penal, direito civil, direito eleitoral e direito público. Enfim, o aplacamento do COVID-19 vai englobar todo o sistema judiciário brasileiro.

Bom lembrar, que as mexidas iniciais já foram tomadas pelo presidente da República Jair Bolsonaro e o ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), com a criação do Comitê Nacional de Órgãos de Justiça e de Controle para resolver os conflitos oriundos do enfrentamento e das consequências trazidas com o novo coronavírus. Na visão do ministro Toffoli, com a decretação da situação de calamidade pública haverá um aumento exponencial na judicialização. Vou além, a questão não está adstrita tão somente à situação de calamidade pública, que envolve uma liberdade do Governo federal em comprar e contratar sem obedecer ao processo licitatório, bem como o autoriza a romper com o equilíbrio fiscal em suas contas.

A questão é macro, que envolve relações de trabalho, de consumo, de relacionamento e de obrigações públicas e civis. Pelo momento adverso, a cadeia produtiva está com uma grande fissura, que está a impedindo de fazer girar a força econômica da sociedade em tempos comuns. Nesse ponto, a justiça também deverá mudar seu olhar, por força do princípio da equidade, que nada mais é do que aplicar a justiça ao caso concreto. E qual é o caso concreto? De incertezas e de insegurança, onde quem produz está se deparando com uma situação jamais imaginável. Já tem caso real, onde o magistrado determinou a soltura de um devedor de pensão alimentícia por causa do risco de contaminação do COVID-19. Ah, o Estado também terá que rever seus conceitos e metodologias de cobrança de impostos e urgentemente suspender as execuções fiscais contra os empreendedores. Todos estamos e iremos perder, e o Estado não será fora à parte.

No segmento empresarial, o efeito é de uma verdadeira hecatombe. Como escrevi em artigo anterior (Aqui), shopping centers devem sentar com os seus lojistas inquilinos e juntos buscar uma solução para renegociar os valores de aluguéis, taxa condominial, fundo de propaganda e outros valores inerentes ao negócio. Isso é imperioso, caso queiram sair dessa crise vivos economicamente. Do lado da construção civil e imobiliário, a repercussão negativa é a mesma, senão mais forte ainda. Explico. Com esse cambalear na economia, muitas relações de trabalho estão sendo revisadas com o afastamento ou demissão do empregado. Assim, quem consome, quem investe e quem tem bens alugados, restará sem o seu capital derivado desse relacionamento contratual. Financiamentos de imóveis e veículos, na mesma linha. Nas pequenas e médias empresas, o dano virá com mais força e de forma imediata.

Não estou aqui sendo um portador de mau presságio, mas realista. Esta mesma realidade é quem vai nos apontar a luz no fim do túnel, para que possamos todos sair desse turbilhão.

Também, rogo que após o término dessa profunda crise, que não nos esqueçamos de tão caro está sendo não poder abraçar amigos, parentes, andar livremente, ir à praia, cinema, shopping centers, praças, viajar, etc. Por forças estranhas e externas, divinas ou não, esse mesmo homem que domina a política, a mais alta tecnologia, fontes de energias, poder bélico e com capacidade de manusear bilhões de dólares, encontra-se perdido, atordoado a apavorado.

Voltando ao debate jurídico, as novas decisões agora devem ter o olhar mais pacificador, não podendo impor um peso extra a nenhuma das partes. O suportamento de uma decisão desalinhada com essa atual situação, e doravante com os seus desdobramos, estará em rota de colisão com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Já há um desequilíbrio no bojo do consumo, onde clientes não estão comprando e, por via reflexa, lojas não estão vendendo e nem fazendo pedido junto à indústria. Postulares básicos da ciência econômica, como equilíbrio fiscal, balança comercial, demanda e consumo, cadeia produtiva, preço, inflação, estão fora da sua curva natural em razão da pandemia imposta pelo COVID-19. Por que assim, na justiça seria diferente?

Peço que compreendam que não estou pregando a desobediência à lei, neste artigo. Mas que, vislumbro uma nova justiça diante dessa espécie de coronavírus. Um poder judiciário mais célere, menos conflitante e mais alinhado aos ditamos de Justiça, em seu conceito lato sensu. Aos advogados privados, infelizmente, haverá uma reviravolta no trato com os clientes. Penso que, como tal, já somos e ainda seremos o lado mais vulnerável dentre os demais operadores do direito, por não percebermos um rendimento fixo e garantido pelos governos (União, Estados ou Municípios). Nessa linha, caberá à Ordem dos Advogados do Brasil estar 100% presente e ao nosso lado, o que é o obvio! A cobrança das anuidades devem ser suspensas neste ano de 2020. Do mesmo modo que os advogados e advogadas se ajustarão, a entidade OAB tem a obrigação de tomar o mesmo rumo (ajustar-se) e sem sacrificar mais ainda os seus membros.

Enfim, os furacões não são ad aeternum, assim como essa crise mundial veio, ela passará também. Na política, bem, não há mais o mínimo espaço de “debates” e acusações toscas e infelizes. O momento é de irmandade, devendo-se colocar de lados as predileções partidárias e interesses próprios. O ano de 2020 é de eleições municipais, mas acima disso, agora e para frente, é tempo de olhar humano, devendo concentrar todos os esforços físicos, político e financeiro para o combate ao Covid-19. Sinais já temos, que o novo coronavírus não escolhe o seu novo hospedeiro, é republicano e gosta de todas as classes sociais. Cuidemos uns dos outros!

COMPARTILHE A NOTÍCIA

PUBLICIDADE

Confira Também

GM vai montar elétrico Spark no Ceará: importante fato novo industrial — e ativo político para Elmano

“Vamos pra cima”: Elmano endurece discurso em meio à onda de violência no Ceará

AtlasIntel: entre criminalidade e economia estagnada, Lula vê erosão no apoio e avanço de Tarcísio

Chiquinho Feitosa reúne Camilo, Evandro e Motta em articulação para 2026

A disputa no Ceará e os passageiros do carro dirigido por Ciro Gomes

Do cientista político Andrei Roman (AtlasIntel): Lula não é favorito em 2026 porque perdeu o ‘bônus Nordeste’

Vídeo de Ciro no centrão: discurso contra Lula e aceno à centro-direita e centro-esquerda

O roteiro de conversas e articulações que aponta Ciro candidato no Ceará

O que você precisa saber sobre a venda da Unifametro para o grupo que controla a Estácio

Disputa entre Ceará e Pernambuco derruba comando da Sudene e escancara guerra por trilhos e poder no Nordeste

Guararapes, Cocó e De Lourdes têm a maior renda média de Fortaleza. Genibaú, a menor

Moraes manda Bolsonaro para prisão domiciliar após vídeo em ato com bandeiras dos EUA

MAIS LIDAS DO DIA

MP Eleitoral não acata pedido de prisão de Ciro, mas pede restrições cautelares

PDT fluminense sonha com Ciro para disputar Governo do Rio de Janeiro

Turismo brasileiro registra maior faturamento da série histórica e soma R$ 108 bilhões no semestre

Fux diverge de Moraes e Dino e vota por anular processo da trama golpista no STF

A última jogada do STF no tabuleiro do Golpe de 8 de janeiro – Moraes (rainha) já apontou o ex-rei (Bolsonaro) como chefe do golpe; Fux (bispo) tenta anular tudo

Fortaleza registra deflação de 0,07% em agosto com queda de energia e alimentos

Ceará inaugura terminal multimodal de cargas frias no Pecém com investimento de R$ 105 milhões

Quando o sentido chega depois; Por Gera Teixeira

E agora, Padre Melchior? Por Paulo Elpídio de Menezes Neto