As chamadas “elites”, os que sempre montaram, por cima, escanchados sobre a Nação, e fizeram do sacrifício do povo a razão e usufruto do seu poder, perderam o pescoço tentando salvá-lo.
Os homens ricos, grandes proprietários e herdeiros de grandes fortunas, os intelectuais, resguardados nos seus poderes bem usados, os judeus, a fugirem de uma condenação ancestral, os jornalistas e até mesmo os militares, os senhores da guerra e da paz, sem omitir os políticos, cuja flexibilidade os torna adaptáveis a todas as circunstâncias — todos, indistintamente, imaginavam que escapariam aos regramentos ideológicos e ao autoritarismo das novas classes chegadas ao poder. Assim foi na Itália de Mussolini, na Alemanha nazista, na Rússia, com Lênin e Stálin, e por onde o sol da liberdade pôs-se no horizonte, no entardecer civilizacional do nosso tempo.
Do totalitarismo, das garras da polícia política, da insensatez dos oráculos da tragédia grega pressentida — ninguém escapa. Os feitos e desfeitos, os fatos e os fastos, e as nefastas circunstâncias, dominam a tragédia dos homens e das mulheres e das suas vãs quimeras desajuizadas.
Stalin eliminou para mais de 200 oficiais de carreira para que Trotsky construísse o seu exército “vermelho”. A ele, Stálin, coube impor a sua visão solitária e os controles que jamais compartilhou com ninguém. Os aliados da véspera, da construção da “ditadura do proletariado” foram os primeiros a perderem o juízo e as cabeças…
Assim foi no Diretório, na Convenção e no Terror revolucionários de Robespierre. Não seria diferente em Vichy, com Pétain.
No Brasil, as “revoluções” não vêm para revolucionar; chegam para os ajustes da conveniência. Em 1964, as forças armadas foram convocadas pela sociedade e pela família brasileira, em nome da fé e da religião para a defesa contra o assédio do comunismo.
Estabeleceram-se, generais e aspençadas por um quarto de século no poder e de lá saíram sem obra de vulto ou relevo, fora a constrição da liberdade e das esperanças, das poucas sobras que restaram. O que bem poderiam ter feito e obrado como força emergente, resultou inexpressivo.
Trinta e oito anos depois, as praças abarrotadas de gente ansiosa, desguarnecidas de certeza, pediram que salvassem o país, a queimar pelas chamas da insensatez e pela vilania das mentiras estrategicamente construídas.
O período dos governos militares e as breves e frágeis persignações eleitorais que o sucederam, à espera da urna eletrônica salvadora e de governos, longos no mandato e curtos na eficiência dos seu poderes compartilhados, aprofundaram as causas mais profundas que possibilitaram o crescimento ideológico dos grupamentos radicais no Brasil.
O pensamento radical de direita ou de esquerda não brotam no campo, tampouco no asfalto, nas universidades e na caserna, na Igreja, quanto na família, graças a abluções rotineiras de ativismo praticante. Elas surgem de circunstâncias acumuladas, da indulgência que cerca a esperteza de uns e a estultícia de outros.
De 32 partidos políticos, estrategicamente alojados nas persignações convenientes dos dogmas ideológicos, fora o “Centrão”, pau para toda e qualquer obra, a maior parte sobrevive nas alianças dissimuladas da esquerda, é produto de origem comum, que cabe no mesmo saco das fantasias da militância.
A cada vez, as elites recobram a crença na sua sobrevivência. Nada aprenderam com a História, veem-se com olhos astutos de vitoriosos entre “companheiros de estrada” que, imaginam, poderão iludir…