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A pressa de Lula, por Dimas Oliveira

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Foto: Ricardo Stuckert

As pesquisas eleitorais indicam a vitória de Lula, já no primeiro turno. Caso aconteça, parecerá tão improvável e surpreendente quanto a vitória de Bolsonaro em 2018. Não tanto pelo peso da sua liderança, mas pelos infindáveis ataques recebidos e à memória recente da prisão.

Tais acontecimentos, observados de longe, se assemelham ao que os físicos costumam chamar de horizonte de eventos, ponto a partir do qual nada retorna ou escapa para que possa ser explicado. Uma fronteira refratária à razão. Será assim mesmo?

Preocupado com a euforia do já ganhou, Guilherme Boulos do Psol advertiu nas redes sociais para a armadilha desse clima. Para ele, Bolsonaro poderá surpreender justamente no eleitorado mais pobre das periferias, áreas tradicionalmente petistas. Nunca é demais lembrar o peso do auxílio Brasil, Vale Gás, bem como a queda do nível de desemprego para esses setores. Nada é tão simples como parece, avalia.

Considerando os últimos movimentos, com Alckmin praticamente escalado para o posto de vice, resta evidenciada a arte de Lula para construção de hegemonias. Nesse sentido, e como parte dessa artesania cuidadosamente pensada, é que procurou explicar recentemente a articulação com os partidos e políticos responsáveis pelo impedimento de Dilma. Sem subterfúgios, foi ao ponto: “já que estes são praticamente todo o Congresso, sobraria quem para conversar?”

O sentido oculto dessa constatação nos remete necessariamente a outro ponto: o que poderá então unir os golpistas de primeira hora, enredo construído pelo próprio PT, ao novo governo capitaneado por seu principal líder? Que variável parece ter escapado para um rearranjo tão irreal para muitos? Talvez outra fala ajude a desvendar o quebra-cabeças.

Questionado sobre a percepção do mercado nesse processo, Lula foi pedagógico, indicando que com ele o mesmo ficará feliz, na medida em que o acesso ao consumo pelo povo voltará a ser uma realidade.

De fato, corroborando com esse raciocínio, o poderoso Credit Suisse tratou com naturalidade, em informe a seus investidores, sobre uma eventual vitória de Lula e sua agenda. Acredita inclusive que ele fortalecerá o equilíbrio fiscal. Surpreendentemente, o próprio presidente do Banco Central, Campos Neto, afirmou que o mercado diminuiu os receios quanto a uma eventual vitória de Lula.

Feliz o mercado, a expressão política do seus interesses inconfessos, o Congresso, também estará. Feliz o mercado, feliz o povo. A frente costurada por Lula se nutre e é erguida a partir desse postulado.

Resultado desse movimento, mas não mais redutível apenas a ele, se fortalecem as opiniões de que Dilma teria caído muito mais por absoluta incapacidade gerencial do que por aviltar os pressupostos econômicos deixados por Lula.

A ausência da mesma no evento com Alckmin presta socorro e oferece elementos para esses raciocínios. Ou, mais que um movimento do capital contra o PT e seu legado, os canhões dirigidos a ela miravam sobretudo a sua incapacidade gerencial e menos o seu projeto propriamente dito.

Vê-la colocada no fundo da plateia pelos seus, ao mesmo tempo em que é impelida a acenar e abraçar algozes sentados à mesa em posição de protagonistas, diz bastante sobre todo esse processo que a esquerda convencionou preguiçosamente chamar de “golpe”.

Fora do PT, a iniciativa do senador Randolfe Rodrigues, da REDE, no sentido de ampliar o leque de adesões à candidatura de Lula já no primeiro turno, causou um movimento que, no mínimo, produz dois efeitos imediatos: uma sinalização clara de que compreendeu o equívoco da Rede ao apoiar praticamente sem ressalvas a lava jato, além de se afastar e tencionar Marina Silva, desestimulando-a da ideia de uma terceira via com Ciro Gomes.

Inimiga das fulanizações, sabe-se que a ex-ministra reconhece, no entanto, que na luta contra o capital refratário ao meio ambiente, apenas Ciro lhe veio socorrer quando eram colegas de Ministério, observando também que a partir daquele momento setores expressivos do PIB o veriam com profunda desconfiança e mesmo explícito rancor.

O manifesto puxado por Randolfe vai além, lançando sinais para Kassab, através dos signatários do partido deste. Com essa iniciativa, Randolfe se credenciou para assumir num eventual governo Lula posição de destaque, se afastando de uma difícil disputa pelo governo do Amapá, ao mesmo tempo em que oferece a Lula o direito de conquistar a simbologia da Rede Sustentabilidade, com sua pegada ambientalista, se desvinculando também do seu maior símbolo, a própria Marina.

O conjunto e amplitude dos movimentos de Lula indicam fortemente que ele tem pressa, procurando liquidar a fatura no primeiro turno. Tanto ele quanto os seus apoiadores sabem que uma vitória acachapante sepultará ou atenuará de vez qualquer resistência.

Lula aprendeu a se transformar, adiantando-se no tempo, num ponto cego para os seus adversários. Percebe que caso Bolsonaro resista e consiga ir para o segundo turno, novas variáveis exigirão a mobilização de mais energias e recursos. O que significaria novamente alimentar o imponderável e suas surpresas.

Dimas Oliveira é advogado, analista de política e articulista do Focus

 

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