A vida não é sobre ter tudo. É sobre valorizar o que já temos. Esta frase, tão simples, contém uma das verdades mais profundas e negligenciadas da existência humana: a gratidão. Em um mundo cada vez mais acelerado, onde o “ter” muitas vezes se sobrepõe ao “ser”, poucos são os que conseguem enxergar a riqueza das dádivas que Deus já nos concedeu.
Deus, em sua sabedoria infinita, nos dotou de tudo o que é essencial à vida: saúde, mente, coragem, dignidade e a capacidade de lutar por nossa própria sobrevivência. Tal como os animais da floresta, que saem em busca do alimento que sustenta suas vidas, o ser humano foi chamado à ação — não à inércia. Na natureza, vemos os menores insetos se moverem com propósito, instintivamente, em busca da vida. E o que dizer de nós, que recebemos o dom da razão, da fé e da liberdade?
Hoje, enquanto tomava um banho de sol, percebi a grandeza dos presentes diários que muitas vezes desprezamos. O sol, essa fonte de energia vital, brilha sobre todos, aquecendo não apenas nossos corpos, mas também nossa alma. Contudo, quantos de nós verdadeiramente o valorizam? Quantos reconhecem que ele é parte de uma ordem divina, colocada por Deus desde a criação do mundo para o bem de toda a vida?
Vemos exemplos admiráveis na própria criação. Animais que nascem aptos a sobreviver na selva, cumprindo seus papéis sem reclamação. A água, por sua vez, é símbolo de humildade e sabedoria. Ela desce aos lugares mais baixos sem perder sua essência, nos alimenta sem pedir reconhecimento, flui com flexibilidade por entre obstáculos e, sem pressa, chega ao oceano — destino de equilíbrio da Terra. Simples, sem cor, sem sabor, mas essencial. Que lição de humildade e grandeza!
Mas e o ser humano? Com todas as capacidades físicas, mentais e espirituais que possui, por que ainda se vê tão aprisionado, paralisado pelo medo, pela acomodação, pela falta de propósito? O que mais precisa ele para se libertar dos grilhões que o impedem de caminhar?
A resposta talvez esteja no despertar da consciência. Deus já nos concedeu tudo. Falta-nos apenas perceber. Acordar do sono profundo em que muitos vivem, despertar para a vida e para a missão que nos foi confiada. Cada ser humano é uma centelha divina, uma alma com propósito. Estamos aqui com uma razão: contribuir uns com os outros, crescer espiritualmente, e cumprir nossa jornada com dignidade.
Somos responsáveis pela vida que recebemos. Não podemos desperdiçá-la em passividade, como se estivéssemos à espera de que tudo nos seja entregue. A natureza ensina: a borboleta precisa lutar para sair do casulo; o casulo representa o processo doloroso da transformação. Mas é nesse esforço que nasce a liberdade do voo. Assim também é com o ser humano. É preciso enfrentar o medo, romper os limites da zona de conforto e buscar a realização do nosso propósito maior.
A gratidão é o primeiro passo. Ela nasce quando aprendemos a ver com os olhos do coração. Quando reconhecemos o valor do que temos — da saúde, da amizade, da fé, da possibilidade de recomeçar a cada manhã. A felicidade mora aí, nesse reconhecimento silencioso, mas poderoso, de que já somos abençoados.
E quem entende isso… vive em paz.
Francisco de Assis Vasconcelos Arruda é Engenheiro Agrônomo, Doutor pela Escuela Técnica Superior de Ingenieros Agrônomos da Universidad Politécnica de Madri, pesquisador da Embrapa por 34 anos, genealogista, membro da Academia Sobralense de Estudos e Letras, da Academia de Letras, Ciências e Ecologia do Leste Maranhense, da Academia Massapeense de Letras e Artes, do Instituto Histórico e Geográfico de Sobral, sócio efetivo do Instituto do Ceará.