
Por que importa:
Aécio Neves reassume o comando nacional do PSDB com um recado duro e incomum no xadrez de 2026: o partido não apoiará Lula nem qualquer nome da família Bolsonaro. É uma tentativa explícita de reconstruir o espaço do centro político — justamente o terreno mais erodido pela polarização. A entrevista foi publicada no Estadão.
O que Aécio disse
• “Vamos radicalizar no centro.”
Aécio tenta reinventar o PSDB como alternativa à lógica do voto “anti”. Para ele, hoje metade do Brasil vota “para impedir alguém”, e não “por um projeto”.
• “Não nos identificamos com a pauta bolsonarista.”
Aécio marca distância do PL e congêneres — ponto sensível após anos de erosão do eleitorado tucano para a direita.
• “Não apoiaremos Lula.”
O veto ao lulismo não surpreende, mas ganha novo peso porque o PSDB será presidido por alguém frontalmente crítico ao PT — e que rejeita o discurso petista de “defensores da democracia”.
• Objetivo imediato: 30 deputados federais.
O partido já não tem governador e foi reduzido a uma legenda de média para pequena.
Aécio agora concentra esforços na sobrevivência institucional e no cumprimento das cláusulas de desempenho.
O que está por trás
1. Reconstrução pela memória
Pesquisa interna citada por Aécio mostra que o PSDB “ainda está vivo na memória de muita gente”. O discurso recupera FHC, as reformas dos anos 1990 e uma identidade programática que ele classifica como “ilha num oceano de pragmatismo”.
2. Reconexão com a classe média tradicional
O tucano mira o eleitor urbano, moderado, avesso aos extremos — justamente o público que encolheu ou migrou para ondas anti-PT e anti-Bolsonaro.
3. Pós-2026 como objetivo real
Aécio afirma que 2026 será apenas o degrau para 2030. Reconhece que Lula e Bolsonaro, com idade ou esgotamento, deixarão um vácuo que o PSDB quer ocupar.
A frase que define tudo
“Nós somos oposição ao PT, mas não significa que estaremos aliados ao bolsonarismo.”
É a tentativa de marcar um espaço que desapareceu no Brasil: a oposição que não é de extrema direita.
A leitura do Focus Poder
• O centro tenta volta à pauta
Com a rejeição a Lula e à família Bolsonaro, o PSDB tenta obrigar o debate político a sair do binarismo.
• O tucanato assume um “não” duplo
Sem Lula e sem Bolsonaro, o partido só terá relevância em 2026 se conseguir nacionalizar uma narrativa própria — não uma candidatura presidencial.
• Personalização versus projeto
Aécio reconhece que a política brasileira nunca foi de partidos, mas de personalidades: de Vargas a Juscelino, de FHC a Lula e Bolsonaro.
Sua aposta: 2026 será o fim dessa era — ou, ao menos, o início da transição.
• Agenda de 4 a 5 temas
O PSDB vai martelar uma agenda mínima nacional, aplicada em cada Estado, para recuperar coerência e diferenciação.
Vá mais fundo
Aécio tenta algo arriscado: reconstruir o partido que ele próprio ajudou a implodir, ao mesmo tempo em que busca neutralidade alta o bastante para disputar o centro, mas oposição firme o bastante para enfrentar o PT — sem cair na armadilha de ser apêndice do bolsonarismo.
O efeito concreto só aparecerá se o PSDB conseguir apresentar quadros — governadores, prefeitos, deputados — capazes de sustentar o discurso. O resto, como sempre, dependerá do eleitor que abandonou o centro e pode ainda demorar a voltar.

E como fica o PSDB no Ceará com Ciro como referencial?
A posição de Aécio, ancorada no nem Lula, nem a família Bolsonaro, abre espaço para alianças futuras no campo democrático da centro-direita (assim foi com FHC), mas também não fecha a porta para uma candidatura presidencial do próprio PSDB.
Esse detalhe é crucial.
Dentro desse cenário, Ciro Gomes volta a caber na equação tucana. Explica-se: Se o centro conseguir estruturar uma alternativa nacional consistente, Ciro pode tanto se habilitar como nome presidencial dentro do PSDB quanto se tornar uma peça de alto valor para composições mais amplas.
Caso opte em ser candidato no Ceará, Ciro e seu PSDB vão torcer para que se viabilize uma candidatura nacional sem a marca exagerada do bolsonarismo. Quadro que permitiria um palanque no Ceará com uma candidatura no plano local aliada ao plano nacional.
Na verdade, o PSDB quase sempre lucrou com a polarização quando o partido era a outra ponta do polo. Após a derrota de Aécio Neves em 2014, o Bolsonarismo ocupou o lugar dos tucanos.
Bom, o desfecho depende do que o centro político conseguirá construir até lá. Como sempre, há muita água para rolar por baixo dessa ponte.






