Alzheimer: um desafio esquecido de saúde pública; Por João Macedo

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A Doença de Alzheimer é o tipo mais comum de demência. Caracteriza-se pela perda progressiva das funções cerebrais, manifestada por esquecimento, alterações na linguagem, desorientação e outros comprometimentos cognitivos. Com o avanço da doença, há perda da capacidade de realizar tarefas simples do dia a dia, levando à dependência total de cuidados por terceiros. Além disso, são frequentes as alterações de comportamento, o que gera enorme sobrecarga para os cuidadores — tornando-os mais suscetíveis a adoecimentos físicos, transtornos emocionais, além de impactos sociais e econômicos.

Embora mais prevalente em pessoas idosas, o Alzheimer também pode acometer indivíduos com menos de 60 anos e em plena atividade funcional. Sabe-se hoje que a doença começa de forma silenciosa, em uma fase assintomática que pode durar até 20 anos antes dos primeiros sintomas. Em seguida, surgem sinais discretos — conhecidos como comprometimento cognitivo leve — até alcançar o estágio plenamente sintomático, caracterizado como demência.

Nas últimas décadas, a ciência avançou significativamente na compreensão da doença, especialmente no entendimento dos fatores de risco e nas estratégias de saúde pública capazes de reduzir sua prevalência. Apesar disso, o cenário atual das demências — e do Alzheimer em particular — permanece extremamente desafiador.

No Brasil, estima-se que mais de 1,76 milhão de pessoas com 60 anos ou mais vivam com algum tipo de demência, sendo o Alzheimer responsável por pelo menos 60% desses casos. Com o envelhecimento populacional, esse número deverá crescer para 2,78 milhões até o fim desta década e alcançar 5,5 milhões em 2050. O quadro se agrava diante de outro dado alarmante: cerca de 70% dos casos não são sequer diagnosticados, o que impede o acompanhamento clínico adequado. Já aqueles que recebem diagnóstico — muitas vezes em estágios avançados — enfrentam enormes dificuldades para acessar atendimento tanto no SUS quanto na rede privada, por conta da escassez de profissionais e de serviços especializados.

Trata-se, portanto, de uma condição de altíssimo impacto não apenas para os pacientes, mas também para os cuidadores, familiares e para toda a sociedade. O Brasil precisa, com urgência, de um plano nacional efetivo para a atenção às pessoas com Alzheimer. É fundamental lembrar que o controle dos principais fatores de risco poderia reduzir até pela metade o número de casos de demência no país — tema que será aprofundado em um próximo artigo.

João Macedo Coelho Filho é Diretor da Faculdade de Medicina da UFC. Fez Residência em Clínica Médica no Hospital Universitário Walter Cantídio, tem Mestrado em Epidemiologia pela Universidade Federal de São Paulo, Fellowship em Geriatria pela University of Oxford, Reino Unido, e Doutorado em Farmacologia pela UFC.

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