“Não foi o conflito de opiniões que tornou a história tão violenta, mas o conflito da fé nas opiniões, ou seja, nas convicções“, Nietzsche
Estranho país este a que chegamos. Nem com tantos e repetidos recomeços, conseguimos alcançar um patamar civilizatório mínimo de nação e povo em quinhentos anos de dependência das nossas íntimas fraquezas.
Deixamos a condição de colonizados para cair em um arremedo de monarquia, feita à imagem de uma nobreza lusitana decadente, folia de braganças e alcântaras que nos roubou trezentos anos na contagem final da nossa apequenada história.
Para largar a submissão de três séculos, pagamos o resgate da nossa Independência à Inglaterra com saldos de caixa do Banco do Brasil. O que sobrou a familia real levou como “argent de poche” para os seus gastos, de regresso à Corte lisboeta.
A República saiu de um golpe militar, de um brado retumbante, que ecoou pelo Campo de Santana e valeria uma estátua equestre ao marechal Deodoro da Fonseca, no Rio de Janeiro, como recompensa por uma noite mal dormida.
De republicas, foram várias, tivemo-las eleitas a “bico de pena”, saídas do forno das oligarquias, com algumas pitadas de ideias mal concebidas em francês mal pronunciado. Ditaduras, golpes militares ou assaltos mixtos, cívico-militares, sucederam-se até à invenção da urna eletrônica, “tótem” que nos fez entrar para ficar na comunidade dos sócios latinoamericanos desse clube de democratas que serve de exemplo ao mundo.
Deixamos de ser “thiers monde” na formulação de Georges Balandier, para nos tornarmos “periféricos e dependentes”, no batismo recebido na USP. De uns tempos para cá, batemos a poeira secular das nossas pretensões,e decidimos que já era tempo para nos tornarmos “modernos”. Quem sabe, “pós-modernos?”
E por assim termos feito, tornamo-nos modernos. Simples assim.
A modernidade é inevitável até que perca a sedução, ao envelhecer em caída de “exercício findo” por obra do deetino… A resistência “reacionária” ao moderno é uma forma de persistência de uma memoria relativa, sobrevivente, que aos jovens desagrada e ofende.
Nosso grande feito em todos esses anos, durante os quais nos nos reinventamos vezes seguidas, foi a invenção da “ditadura constitucional”, ainda em construção, procedimento delicado e complexo, engenharia política lenta, gradual e segura, como pretendia o general Geisel vê-la realizada e segundo a versão atualizada da “democracia relativa” de Lula.
Descobrimos, bem a propósito, que um país faz-se com leis e bachareis, com as tecnologias movidas a ideologias “amplo espectro”. Que mais vale ter um conceito (ou preceito) “in core” do que habilidades empíricas inúteis, à mão.
Vencemos a ignorância sem que buscássemos curar as suas vítimas. Adotamos a ignorância como um atributo a ser compartilhado por todos, demos-lhe cidadania, socializamos as suas potencialidades e reconhecemos as suas capacidades criativas. Reservarmos-lhe lugar na Academia, concedemos-lhe voz e voto, confiamos-lhe o poder e atribuimos-lhe a fortuna.
Com a morte das “ideologias da fé” e da Revelação construímos a confiança inquebrantável, na “fé nas ideologias”…
