
Entenda o caso– O avanço acelerado das apostas online no Brasil transformou um fenômeno de entretenimento em um problema urgente de saúde pública. O dossiê “A Saúde dos Brasileiros em Jogo”, elaborado pelo IEPS, FPSM e Umane, revela que o setor — impulsionado por publicidade agressiva, ausência de regulação robusta e fácil acesso — está produzindo prejuízos sanitários, sociais e econômicos de proporções bilionárias.
A combinação entre vício, endividamento, adoecimento mental e impacto familiar tornou-se uma bomba-relógio que o poder público ainda não consegue conter.
Por que isso importa
1. Prejuízo anual é alarmante: R$ 38,8 bilhões
As apostas online geram um custo social total estimado em R$ 38,8 bilhões por ano, sendo R$ 30,6 bilhões apenas em danos relacionados à saúde — suicídios, depressão, perda de qualidade de vida e tratamentos médicos. Isso representa 78,8% do impacto total.
2. Arrecadação não cobre nem de longe os danos
Embora o setor tenha arrecadado R$ 6,8 bilhões entre janeiro e setembro de 2025, apenas 1% da receita vai para o Ministério da Saúde. O dossiê aponta que as bets podem custar até seis vezes mais do que arrecadam — criando um desequilíbrio que transfere à sociedade a conta da crise.
3. Exposição massiva atinge jovens e adolescentes
A pesquisa TIC Kids Online aponta que 53% de crianças e adolescentes de 9 a 17 anos já viram publicidade de apostas — um risco grave de iniciação precoce ao jogo. Entre adolescentes que apostaram no último ano, 55,2% apresentaram sinais de jogo problemático.
4. Setor pouco emprega e precariza
Apesar dos lucros altos, o setor criou apenas 1.144 empregos formais em 2024. A informalidade é de 84%, muito acima da média nacional. Cada trabalhador gera cerca de R$ 3 milhões mensais para as empresas, mas recebe apenas 0,34% disso em salário.
Vá mais fundo
Endividamento e prejuízo familiar em escala nacional
As famílias brasileiras movimentaram R$ 240 bilhões em apostas em 2024, gerando impacto direto no consumo real: o varejo deixou de faturar R$ 103 bilhões.
Além disso, 13% dos inquilinos do país já atrasaram aluguel devido às apostas online, e 74% dos entrevistados associam o setor ao endividamento familiar.
O peso do sofrimento mental
O III Levantamento Nacional sobre Drogas (UNIFESP) mostra que 17,6% dos brasileiros com 14+ anos apostaram em 12 meses, e que os usuários de bets apresentam 66,8% de comportamentos de risco ou problemáticos — taxa muito superior a outras modalidades de jogo.
O número de atendimentos por transtorno do jogo na RAPS pode dobrar até 2028, saltando de 10.553 para 21.949.
SUS não está preparado para a demanda crescente
Apesar de avanços recentes e expansão dos CAPS, o próprio Ministério da Saúde reconhece que a estrutura da RAPS ainda é insuficiente para absorver a demanda explosiva por atendimento especializado.
Países desenvolvidos tratam jogo como produto nocivo
Reino Unido e Noruega já adotam medidas restritivas — limites de aposta, proibição de publicidade e financiamento robusto de tratamento. O dossiê aponta que o Brasil ainda está anos atrás desse padrão.






