Bolsonaro e 2022: se os números não mentem. Por Ricardo Alcântara

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Ricardo Alcântara é publicitário e escritor.

Ao concluir seu primeiro ano, o governo Bolsonaro obtinha em média, nas pesquisas de opinião, 40% de aprovação. Não era uma boa notícia: o presidente não havia conquistado muitos corações e mentes fora do quadro de adesão que lhe garantira a vitória eleitoral um ano antes.

Mas tampouco era uma má notícia, considerada a conjuntura residual da crise econômica que isolou Dilma Rousseff, permitiu o artificialismo de seu impeachment e ungiu um vice-presidente sem a força política e a liderança necessárias para mover a pedra de uma retomada firme do crescimento.

No final do ano seguinte, aqueles 40% (em números redondos) já havia perdido 25% de sua massa muscular: caíra para algo em torno de 30%, um movimento ocasionado pelas respostas, ou ausência delas, que o presidente oferecia, ou deixara de oferecer, para o quadro dramático da pandemia.

Aquela queda de popularidade era numericamente elevada, mas, considerados os termos de sua causa — uma chocante falta de senso de responsabilidade do Chefe de Estado na abordagem do problema — um terço de aprovação depois de tanta sandice fora até surpreendentemente resiliente.

Ao alcançar agora o final do terceiro ano de mandato, pesquisas registram nova queda e de igual monta: a aprovação situa-se em torno de 20% — metade do percentual verificado no primeiro ano. O patamar flerta com o fracasso: presidente nenhum governa, de fato, com este índice de aprovação.

O percentual resulta da soma de todos os equívocos — gestão sanitária, estratégias econômicas, relação com a institucionalidade, abordagens subjetivas, escassez de talentos — multiplicado pelo fator político: um presidente assombrado pelas investigações sobre sua família se rendeu ao objeto das contestações retóricas que o elegeram: o voraz fisiologismo e seu maior emblema, o orçamento secreto.

Numa projeção constante do que têm apontado as pesquisas, a curva descendente de popularidade (ao curso de 10% ao ano) aponta para um final de mandato melancólico: 10% dos eleitores, apenas um em cada 10 cidadãos estaria disposto a lhe conferir um novo mandato. Ao fim, nem candidatura haveria. Seria a antessala do ostracismo.

No entanto, e apesar do empurrão ladeira abaixo que a realidade nos promete — aumento de preços, novo surto epidêmico, a erosão de sua credibilidade — o mais provável é que a queda livre já se encontre próximo de seu piso intransponível, algo em torno de 15%.

Ora, já será, certamente, medida suficiente para abrir caminho para que outras candidaturas, de centro direita e centro esquerda, consigam atrair maior atenção do eleitor brasileiro. O fracasso de Bolsonaro conspira contra a polarização. Com o burro à sombra, Lula da Silva espera por um adversário.

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