
A realização da COP30 em Belém, no Pará, entrou em estado de alerta a pouco mais de 100 dias do evento. Países que compõem as negociações climáticas da ONU estão pressionando o Brasil a transferir a conferência para outra cidade devido aos preços considerados “exorbitantes” das acomodações na capital paraense, que podem chegar a R$ 4 mil por noite.
A denúncia foi feita publicamente pelo presidente da COP30, André Corrêa do Lago, nesta quinta-feira (31), após o envio de uma carta assinada por 25 países, entre eles nações africanas, os Países Menos Desenvolvidos (LDCs) e também economias desenvolvidas como Canadá, Suíça, Suécia e Holanda. No documento, os países pedem que o Brasil garanta “condições mínimas de acomodação e custo, seja em Belém ou em outro lugar”.
“Há uma sensação, literalmente, de revolta dos países por essa insensibilidade, sobretudo por parte dos países em desenvolvimento”, afirmou Corrêa do Lago.
Tarifa dez vezes maior que o normal
De acordo com o diplomata, os preços em Belém superam os padrões de outras edições da COP. “Na maioria das cidades onde as COPS aconteceram, os hotéis passaram a pedir o dobro ou triplo do valor. No caso de Belém, os hotéis estão pedindo mais de dez vezes os valores normais”, disse.
Segundo levantamento no Booking.com, plataforma parceira oficial do evento, há acomodações para o período da COP30 com valores entre R$ 30 mil e R$ 297 mil por pessoa para 11 noites. Já plataformas de aluguel por temporada, como o Airbnb, têm anúncios que chegam a milhões de reais.
Delegações ameaçam reduzir presença
A crise tem levado países a considerar a redução drástica de suas delegações ou até a desistência de participar do evento marcado para os dias 10 a 21 de novembro. A Holanda informou que poderá reduzir o número de representantes. A Polônia declarou que pode não enviar ninguém. “Provavelmente teremos que reduzir a delegação ao mínimo. Em um caso extremo, talvez tenhamos que desistir de comparecer”, afirmou o vice-ministro do Clima da Polônia, Krzysztof Bolesta.
A preocupação motivou uma reunião de emergência do COP Bureau, instância de coordenação do processo da ONU, convocada pelo Grupo de Negociadores Africanos. A organização da conferência prometeu uma resposta até o dia 11 de agosto, segundo o embaixador tanzaniano Richard Muyungi, que lidera o grupo.
“O Brasil tem muitas opções para ter uma COP melhor, uma boa COP. É por isso que estamos pressionando para que o Brasil dê respostas melhores, em vez de nos dizer para limitar nossa delegação”, disse Muyungi.
Governo tenta conter crise
O governo brasileiro afirma que não considera a mudança de sede e que está em diálogo com o setor hoteleiro. Entretanto, admite que não pode impor limites legais aos preços praticados. Como resposta emergencial, já foram contratados dois navios de cruzeiro com 3,9 mil cabines, capazes de hospedar até 6 mil pessoas. Uma plataforma de gestão de hospedagem também foi criada, inspirada em experiências anteriores da ONU.
Segundo a organização, haverá prioridade de reservas para 73 países considerados mais vulneráveis, com diárias de até US$ 220. Os demais poderão adquirir acomodações por até US$ 600.
Belém possui uma rede limitada de hospedagem, com apenas 12,2 mil unidades habitacionais registradas em 2022, o que explica parte da bolha nos preços. Autoridades esperam 50 mil participantes para o evento, considerado estratégico para a política ambiental do governo Lula.